Universidades fechadas em 2014 estão com os prédios abandonados
Oito anos após o fechamento da Universidade Gama Filho, na Piedade, na Zona Norte do Rio, e do Centro Universitário da Cidade, na Lagoa e em Ipanema, na Zona Sul, os prédios estão se deteriorando, e processos judiciais ser arrastam na Justiça.
No antigo câmpus da Gama Filho, na Piedade, até cadáveres que eram usados para estudo de anatomia foram deixados apodrecendo no laboratório. Fotos feitas em uma sala da antiga faculdade de medicina mostram partes de esqueletos usados nas aulas de anatomia abandonados.
Do lado de fora, há muito entulho e lixo. O câmpus contava ainda com um importante complexo esportivo, inaugurado há 50 anos. Hoje, o limo se prolifera na piscina, e dentro do ginásio a água parada é um criadouro para mosquitos da dengue.
A boleira Nelma Pessoa Carvalho faz acompanhamento médico no Hospital da Piedade há 13 anos. Ela viu o bairro mudar e a insegurança aumentar. "Não dá para andar aqui. É muito perigoso", disse Nelma.
O motorista de aplicativo José Rinaldo Arouca dos Santos também circula com medo pela região. "Aqui era um movimento muito doido. Hoje em dia é assalto por aqui direto, sem movimento nenhum", disse o motorista.
UniverCidade tem enorme poça d'água
O topo dos prédios de Ipanema e da Lagoa, que costumavam ostentar o letreiro do Centro Universitário da Cidade, uma das faculdades mais importantes do Rio, está com água acumulada. Placas de granito da fachada estão caindo. Na frente do edifício, andaimes entulhados estão enferrujando.
O fotógrafo Rafael Rolim lamenta o abandono dos imóveis.
"Um prédio que poderia ter finalidades. A gente tem déficit habitacional no Rio de Janeiro, a gente tem uma série de necessidades, e aí a gente tem não só uma situação que desvaloriza a região quanto pode atrair doenças, a gente sabe que está chovendo para caramba. Coisas podem despencar lá de cima", disse Rolim.
Instituições descredenciadas pelo MEC
Em 2014, as duas instituições foram descredenciadas pelo Ministério da Educação. O MEC alegou, entre outras coisas, a baixa qualidade acadêmica e o grave comprometimento econômico-financeiro do Grupo Galileo, responsável pela administração das duas instituições e acusado de ter desviado milhões
Dois anos depois, o Tribunal de Justiça do RJ decretou a falência do grupo. O processo ainda se desenrola, numa disputa entre os administradores judiciais da massa falida e o Grupo Galileo.
Em abril de 2021, o prefeito Eduardo Paes disse, numa postagem nas redes sociais, que tinha desapropriado o câmpus da Gama Filho. E anunciou que a ideia era criar, em parceria com a Fecomércio, um grande centro de ensino e conhecimento. Mas até agora, nada saiu do papel.
A Prefeitura do Rio informou que o processo ainda não foi concluído, mas paralelamente está desenvolvendo os projetos de arquitetura e urbanização do terreno.
O que dizem os envolvidos
A massa falida do Grupo Galileo, representada por administradores judiciais, disse que desde 2017 tem pedido a alienação ou locação dos imóveis. Mas que os pedidos são alvos de recursos dos falidos, que são os donos do Grupo Galileo.
Sobre os cadáveres na antiga Gama Filho, a administração judicial disse que só tomou conhecimento da situação recentemente. Disse que a Justiça disponibilizou à Universidade Estácio de Sá o acervo do laboratório. Mas que a universidade recolheu apenas o material que era do seu interesse, deixando para trás parte do acervo.
A Universidade Estácio de Sá disse que seguiu estritamente o que ordenou a Justiça e retirou apenas o acervo cadavérico para estudo e pesquisa. E que a responsabilidade de dar destino às peças cadavéricas restantes cabe à massa falida.
A produção do RJ1 não conseguiu contato com os donos do Grupo Galileo.