08/07/2016 19h40 - Atualizado em 08/07/2016 19h45

Aterros sanitários enviam chorume a estações de tratamento de esgoto

Parte líquida do lixo é levada em caminhões para sete ETEs do estado.
Diluído, material é despejado na Baía de Guanabara, agravando poluição.

Do G1 Rio

Na preparação para a Olimpíada, a poluição da Baía de Guanabara – palco das competições de vela dos Jogos – rendeu muitas críticas ao Rio de Janeiro. Além da grande quantidade de esgoto sem tratamento despejada nas águas, o RJTV mostrou nesta sexta-feira (8) mais um problema: o derrame de chorume, nome dado à parte líquida do lixo.

Como os aterros sanitários não dão conta da grande quantidade de chorume, as Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) passaram a receber esse material, que não pode se acumular nos aterros. Estima-se que metade do chorume gerado diariamente no Rio, cerca de um milhão de litros, seja levado para essas estações.

No estado, sete ETEs recebem chorume atualmente, entre elas as da Alegria, no Caju, Zona Portuária do Rio. E parte desse chorume diluído pelas estações vai parar na Baía.

De acordo com o engenheiro Carlos Canejo, que trabalhou por oito anos na Secretaria Estadual do Ambiente, o cenário preocupa, já que as ETEs não são adequadas para receber chorume, que libera substâncias nocivas como o nitrogênio amoniacal.

"O nitrogênio amoniacal é um nutriente. Isso significa que ele vai entrar no corpo hídrico e , ao londo do tempo, produzir a proliferação de uma microbiologia, que vai consumir o oxigênio dissolvido nesse corpo hídrico e impactar diretamente em toda a cadeia alimentar, na qualidade dos peixes e da água", explica Canejo.

O aterro sanitário que mais envia chorume para as ETEs é o de Seropédica, inaugurado há quatro anos e apontado como o mais moderno da América do Sul. Até hoje, no entanto, o aterro não trata todo o chorume que produz.

A empresa Ciclus Ambiental, que opera o aterro, diz já ter investido R$ 35 milhões no local, onde já trata 70% do chorume grado, e que até o fim do ano espera transformar todo o resíduo em água para uso industrial, graças a outra licitação para contratar outra tecnologia.

"Levar [o chorume] para tratamento externo é uma necessidade, uma complementação, mas isso é muito mais caro. É mais barato investir em tecnologia, desenvolver, ter know how pra desenvolver, é um desafio", afirmou Priscila Zidan, assessora da Ciclus.

O presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Marcus de Almeida Lima, reconhece que o chorume é um material perigoso e não deveria ser transportado por caminhões. Por isso, explica ele, as licenças para novos aterros só são concedidas com a garantia de que tenham uma solução local para o tratamento dos resíduos.

Lima ressalta que o transporte do chorume para as ETEs é uma solução emergencial, porém melhor que o acúmulo do material nos próprios aterros.

"Não é uma situação ideal, mas a gente faz em casos emergenciais, porque é melhor isso do que simplesmente deixar que as lagoas de chorume sem tratamento transbordem e acabem criando problemas piores", disse.

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