de 1999 (Foto: Andreu Dalmau/AFP)
Doris Lessing, uma das escritoras mais influentes do século 20, morreu aos 94 anos neste domingo (17).
Autora de mais de 50 romances, durante sua carreira Lessing foi agraciada com vários prêmios, entre eles o Nobel de Literatura em 2007 e o Príncipe das Astúrias em 2001.
Lessing morreu "em paz" na madrugada deste domingo (17) em sua casa do norte de Londres, afirmou Jonathan Clowes, seu agente e amigo de toda a vida, apesar de não ter revelado a causa da morte.
"Era uma escritora maravilhosa com uma mente fascinante e original; foi um privilégio trabalhar para ela e sentirei saudades", afirmou Clowes.
Nascida em 22 de outubro de 1919 em Kermanshah, na Pérsia - hoje Irã -, Doris Lessing escreveu uma rica obra que fez dela um ícone de marxistas, anticolonialistas, militantes anti-apartheid e feministas.
Grande parte de sua obra narrativa e poética está baseada em sua própria experiência na África e na Inglaterra, com personagens femininos sensíveis e perceptivos que se adentram em questões existenciais e exploram as contradições.
Embora tenha sido classificada como escritora feminista, Lessing, que militou em grupos de esquerda, rejeitou esse rótulo ao considerar que sua obra era mais um exame psicológico do ser humano e seu entorno.
Seus pais haviam sido transferidos a trabalho para a Pérsia quando ela nasceu. O pai era um antigo oficial do exército britânico que serviu durante a I Guerra Mundial, Alfred, e sua mãe a enfermeira Emily.
Em 1925, a família se mudou para o sul de Rodésia (o Zimbábue atual), onde seu pai comprou uma fazenda que não prosperou e sua mãe se esforçou para viver como uma dama georgiana, o que teve um impacto pernicioso em sua filha, que a autora descreveu na primeira parte de sua autobiografia, "Sob minha pele" (1994).
Lessing, que foi internada em um colégio de freiras, abandonou a educação formal aos 14 anos e teve vários empregos, ao mesmo tempo em que começou a experimentar na literatura.
Após trabalhar como telefonista em Salisbury (atual Harare), em 1939, com 19 anos se casou com o funcionário Frank Charles Wisdom, com quem teve um filho, John, e uma filha, Jean, e de quem se divorciou em 1943.
Dois anos depois se casou com Gottfried Lessing, uma exilado judeu-alemão a quem tinha conhecido em um grupo literário marxista, e com quem teve outro filho, Peter.
Após divorciar-se de Lessing, em 1949 a escritora se mudou para o Reino Unido com seu filho mais novo, deixando na África do Sul os outros dois ao concluir, segundo explicou anos depois, que não queria desperdiçar seu intelecto no trabalho de ser mãe.
Lessing militou no Partido Comunista britânico entre 1952 e 1956 e participou de campanhas contra as armas nucleares. Sua crítica ao regime sul-africano lhe custou o veto de sua entrada no país entre 1956 e 1995, e também na Rodésia, em 1956.
Durante as últimas décadas de sua vida, Lessing viveu na mesma rua do londrino bairro de West Hampstead, cuidando de seu filho inválido Peter e sem abandonar sua atividade literária.
Conhecida principalmente por "O carnê dourado" (1962), onde faz uma análise da personalidade e da criatividade feminina, a obra de Lessing é ampla e versa sobre muitos temas, desde a questão da identidade em culturas alheias até o limite da loucura.
Além da crítica social de seus primeiros textos, considerados comunistas, a escritora também se dedicou à ficção científica com sua série "Canopus in Argos", realizada entre 1979 e 1983 e inspirada no sufismo.
Outros livros são "A boa terrorista" (1985), "O quinto filho" (1988) e os que escreveu sob o pseudônimo de Jane Somers, como "Diário do bom vizinho" (1983), a fim de demonstrar as dificuldades para publicar que enfrentavam os escritores novatos.
Apesar de ter rejeitado ser porta-voz do feminismo da época, que considerava uma simplificação da relação entre homens e mulheres, sua obra mais famosa, "O carnê dourado", de marcado tom autobiográfico, se transformou em um clássico da literatura feminista por seu estilo experimental e sua análise da psique feminina.
Lessing, que em 1999 rejeitou o título de Dama do Império Britânico concedido pela rainha Elizabeth II, porque "já não há nenhum império", embora tenha aceitado outro título menor, trabalhou até o final de sua vida escrevendo artigos, romances, relatos e poesia.