A presidente Dilma Rousseff defendeu nesta quinta-feira (17), durante a cerimônia que oficializou a recondução de Rodrigo Janot ao cargo de procurador-geral da República, que os políticos busquem o poder por meio do voto e aceitem o “veredicto” dado nas urnas. Em seu discurso, ela também defendeu que juízes atuem com imparcialidade, sem “paixões político-partidárias”.
Na quarta-feira (16), em duas oportunidades, a chefe do Executivo respondeu indiretamente às movimentações da oposição para abrir um processo de impeachment no Congresso Nacional.
Primeiro, ela disse em uma entrevista a uma rádio de Presidente Prudente (SP) que usar a crise econômica para chegar ao poder é uma "versão moderna do golpe". Mais tarde, em uma solenidade de entrega de residências do programa Minha Casa, Minha Vida no município do interior paulista, ela declarou que "usar atalhos questionáveis" para alcançar o poder "é golpe".
“Queremos um país em que políticos pleiteiem o poder por meio do voto e aceitem o veredicto das urnas. Em que os governantes se comportem rigorosamente segundo as atribuições, sem ceder a excessos. Em que os juízes julguem com liberdade e imparcialidade, sem pressões de qualquer natureza e desligados de paixões político-partidárias”, declarou Dilma na cerimônia de recondução de Janot ao comando da Procuradoria Geral da República.
Na última terça (15), deputados de seis partidos da oposição (PSDB, DEM, PPS, SD, PSC e PTB) apresentaram uma questão de ordem indagando formalmente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sobre os mais de dez pedidos de abertura de processo de impeachment da presidente da República enviados à Casa.
A estratégia abre caminho para que se discuta oficialmente o tema na Câmara. Em agosto, Cunha já havia rejeitado quatro pedidos que não cumpriam requisitos formais. Outros pedidos, porém, ainda aguardam a sua apreciação, entre os quais o do advogado Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT, que se afastou do partido em 2005, em meio ao escândalo do mensalão.
No discurso no evento de posse de Janot, a presidente também defendeu a “civilidade” e a “tolerância” no debate político no país, criticando “ofensas e insultos”.
“Queremos um país em que o confronto de ideias se dê em um ambiente de civilidade e respeito. Queremos que opiniões se imponham pelo debate de ideias e pelo contraditório, posto que ofensas e insultos serão sempre a negação da boa prática, da boa política e da ética”, afirmou Dilma.
Ao final, ela essaltou o papel da PGR como defensora da "estabilidade das instituições democráticas".
"Nestes tempos em que por vezes a luta política provoca calor, quando devia emitir luz, torna-se ainda mais relevante o papel da Procuradoria-Geral da República como defensora do primado da lei, da Justiça e da estabilidade das instituições democráticas, uma missão complexa, a qual estou certa, está mais do que à altura do dr. Janot e sua comeptente equipe", afirmou a presidente.
Aécio
Nesta quinta-feira, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), respondeu as declarações de Dilma de que "usar a crise para chegar ao poder é versão moderna do golpe". Para o parlamentar tucano, "golpe é utilizar de dinheiro do crime ou de irresponsabilidade fiscal para obter votos".
O senador comentou a fala da presidente antes de participar de um seminário promovido pelo PSDB em Brasília. Ele disse ainda que Dilma está "obcecada" com a palavra golpe.
"Golpe e atalho para se chegar ao poder é utilizar de dinheiro do crime ou de irresponsabilidade fiscal para obter votos. Não faço aqui prejulgamentos, mas nós temos que garantir que as instituições estejam blindadas", afirmou Aécio.
Ele fez referências a uma ação no Tribunal Superior Eleitoral que apura se houve irregularidades nas doações de campanha da presidente e também a uma ação no Tribunal de Contas da União sobre supostas "pedaladas" fiscais do governo.