Globo Mar navega pela região sul do país em busca do valioso peixe-sapo

sex, 17/05/13 por thiago.brandao | categoria Episódio da temporada 2013, Temporada 2013

O Globo Mar está no extremo sul do Rio Grande do Sul. Quase esquina com o Uruguai. Num dia de vento e frio. É do porto de Rio Grande, um dos mais importantes do país, que saem os barcos que pescam o peixe do qual é retirada uma carne branquinha, que é muito prestigiada nos melhores restaurantes europeus, americanos e asiáticos. Hoje, um produto de exportação brasileiro.

E, quem diria, até recentemente era desprezado pelos nossos pescadores, até por que não tinha grande valor comercial, no mercado interno. Pra falar a verdade, até hoje, é difícil a gente imaginar a dona de casa brasileira chegando à feira e dizendo assim: ‘Ô seu peixeiro, me dê aí um quilo do bom peixe-sapo’. Por que será que ele tem esse nome?

Hora do embarque no Porto de Rio Grande. Só que o mar não tá nem pra peixe. Nem pra nós.

“O problema é que a gente tá enfrentando condições de mar muito ruins. A previsão é de ventar cada vez mais. O que a gente tá vendo aqui, trata-se simplesmente de uma lagoa. nós estamos dentro da lagoa, dentro da barra do Rio Grande, do porto do Rio Grande. Se dentro da lagoa tá assim, imagina no mar lá fora”, comenta Marcão.

“O que você tá achando?”, pergunta Ernesto Paglia.

“Tá complicado, tá complicado. Tá muito difícil de sair aí devido o mar, as previsões marcavam um tempo mais calmo, mas infelizmente tá muito complicado de sair, de fazer um transbordo lá fora. Não tem possibilidades”, responde Vinicius.

“Um vento de quanto pode chegar?”, quis saber Paglia.

“Vai dá em torno de 50, 60 quilômetros por hora”, diz o dono do barco.

Acabamos adiando. E valeu a pena. Na outra tentativa, encontramos o dia ensolarado. Totalmente ao contrário daquele dia nublado, frio e cinzento lá do Rio Grande. Agora, a equipe do programa está na costa de Santa Catarina. Acontece que o peixe-sapo não fica esperando, ele migra, ele viaja se desloca. E atrás dos melhores cardumes vão os pescadores. E atrás dos pescadores vai o Globo Mar.

Por isso a viagem de hoje começa em Santa Catarina, em Florianópolis. Aos pés da belíssima ponte Ercílio Luz. E desta vez vamos viajar em um barco bem mais confortável, do que aquele pesqueiro que nos aguardava lá no Rio Grande. Vamos no Escorpião. Um velho conhecido do Globo Mar. Portanto, é bom que a gente tenha um barco confortável porque temos 170 quilômetros de viagem pela frente. Vamos. Todos a bordo.

Mas dia bonito não significa mar calmo. Antes de zarpar, só pra garantir, mais uma conferida na previsão do tempo. E mais uma vez, a meteorologia não está do nosso lado.

“Previsão da marinha, do site de hidrografia e navegação, é realmente de uma frente fria, se formando no Rio Grande do Sul”, diz Fátima.

De repente, uma novidade quebra o tédio.

“Está cheio de orca, a duas milhas daqui. Vamos atrás da orca”, diz Paglia.

Navegando e brincando de esconde-esconde conosco. A companhia ajudou a passar o tempo. Mas ainda tivemos que encarar outra noite de confinamento. Só na manhã seguinte, finalmente, vamos começar nossa expedição atrás do peixe-sapo.

“É, e já são 11h, a gente tá navegando a 6 horas e o mar de fato ainda mostra sinais de que um mau tempo muito grande passou aqui perto. Você tá me vendo aqui escorado, não é porque eu estou cansado, é pra ver se eu paro em pé. Se a gente desencosta, olha só, o mar realmente tá balançando muito e o chato é que as vagas muito grandes elas estão passando de lado por nós. Isso nos obriga a navegar de lado pras ondas, o que é muito chato, muito desconfortável. Nossos amigos da equipe estão meio mareados aqui, eu inclusive, houve alguns casos mais drásticos mas já tá todo mundo melhor. E, agora, só nos resta perguntar: onde está o barco do peixe-sapo, o ‘Cordeiro de Deus’ que tem esse nome tão curioso?”, pergunta o repórter.

Seu Manoel é o dono do barco – como tudo na vida dele, uma conquista tirada do mar. É ele quem nos apresenta o famoso peixe. Que me desculpe o sapo. Mas, ô bicho esquisito.

Sem mercado no Brasil, o peixe-sapo é quase todo exportado pra Europa, pros Estados Unidos e a Ásia.

Os brasileiros vão pra Europa e comem ele lá como Tamboril, nos EUA como monkfish e não conhecem aqui no Brasil. Pra Coreia, o peixe é mandado até com bucho. Sem o bucho eles não querem.

“Mas na Europa, dependendo da parte do peixe, pode ser vendido por até R$75 o quilo. E o fígado também é muito disputado e ele também pode ser vendido pela bochecha. É muito disputada também e serve pra fazer alguns pratos específicos”, conta Paglia.

Tanto sucesso lá fora, quase um desconhecido aqui no Brasil. A tal ponto que, até pouco tempo atrás, nossos pescadores nem sabiam como apanhar o bicho.

Paglia: “como chegou essa tecnologia aqui?”

Roberto: “é uma técnica que foi trazida por espanhóis, barcos espanhóis que tiveram 10, 15 anos, beirando essa região, através de arrendamento, contrato com empresas brasileiras, e eles trouxeram esse tipo de pesca que não era conhecido no Brasil”.

Paglia: “porque não tem mais? não interessa comercialmente?”

Roberto: “a questão da especificidade do mercado. não adianta pescar se não tem a colocação no mercado”.

Navegamos pelo  litoral sul do Brasil, na altura de Florianópolis, quase 200 quilômetros mar a dentro. Estamos a bordo do ‘Cordeiro de Deus’, um dos únicos barcos brasileiros autorizados a pescar o estranho peixe-sapo. Algo que não é nem fácil, nem barato.

“O equipamento é muito caro, ele é em sua maior parte importado e o seu Cordeiro estava me dizendo que pra você montar uma rede como essa, uma apenas, você gasta cerca de R$ 75 mil. Só esse barco carrega 4 redes assim. É equipamento que fica a deriva, esperando no fundo. Pode enroscar, vem com pedra e é praticamente descartável. Cada rede dessa não dura muito mais do que 6 meses”, conta Ernesto Paglia.

E o peixe vive em grandes profundidades. É um peixe que é pescado a 250 metros. A rede usada é específica só pra ele. E chega a ter 10 quilômetros. Uma das cordas tem chumbo dentro dela. Então aí ela fica de pé, uma parte afunda outra boia. Fica lá no fundo, a 250 metros de profundidade.

As empresas de pesca brasileiras em sua maioria são familiares e as famílias trabalham dentro dos barcos. O Isaías por exemplo é irmão do seu Manoel Cordeiro. É mais um dos Cordeiros. Os Cordeiros que escolheram o mar pra fazer o seu trabalho. E o pessoal da geração mais nova, está absorvendo o conhecimento tradicional, mas também aprendendo a usar as novas tecnologias.

Homem de muitos embarques, Seu Manoel sabe o valor que tem cada um dos 10 tripulantes. E investe muito no conforto. As instalações são espaçosas, limpas. Há proteção contra o sol e o frio. Seu Manoel deu mais valor à vida depois de um grande susto: um câncer na tireoide quase acabou com ele. Quando voltou ao trabalho, o empresário decidiu dar aos funcionários aquilo que nunca teve.

“Eu trabalhei numa época num barco que tu não tinha um lugar pra tomar um banho, não tinha um chuveiro quente, não tinha conforto nenhum antes na pesca. Era bem difícil. Então eu no meu aqui tenho procurado feito o melhor, em conforto, em segurança pra eles”, conta seu Manoel.

“Quanto tira um pescador?”, pergunta Paglia.

“R$ 1 mil, agora aumentou um pouco, R$ 1,2 mil, R$ 1.290. Eu tenho ficado no mínimo 12, 13 dias no mar, por causa da qualidade do peixe. Às vezes faz duas viagens no mês, ou 3, depende do lugar que a gente está”, responde seu Manoel.

Aládio é o segundo homem na hierarquia do barco. Acima dele, só o mestre. E o cara adora o que faz. Tanto, que continua no mar depois de sobreviver a dois naufrágios. Mas esse tipo de dedicação parece estar com os dias contatos. Hoje, os barcos de pesca estão perdendo homens para a indústria do petróleo. Seu Manoel está preocupado com a concorrência desleal.

O salário não é grande coisa, a rotina é difícil, longe da família, mas para esses homens curtidos pelo sal o mar tem encantos que só estando lá pra ver. A monotonia da navegação pode ser quebrada, por exemplo, pela companhia de golfinhos. Um dia de trabalho ganha uma pausa quando aparece um nobre visitante.

É, mas é hora do expediente e a tripulação do cordeiro de deus já está preparando o peixe-sapo para a venda.

“A coleta da rede pode ter acabado, mas o trabalho está longe de ter terminado. Agora é hora de limpar os peixes. Com a faca bem afiada nosso amigo com muita prática já começa a tirar a barrigada dos peixes. O peixe-sapo é entregue ao exportador limpo das suas vísceras. E o bacana é que enquanto eles pescam o peixe-sapo do lado de fora, aqui do lado de dentro o peixe-sapo começa a ganhar a sua melhor forma, que é a de comida”, diz Paglia.

Antes de descansar, os pescadores limpam os equipamentos do convés e, depois do jantar, começa tudo de novo.

Às 6h do dia seguinte, recomeça a rotina. Primeiro, meia hora pra trazer a âncora lá de 250 metros de profundidade. Depois outro tanto pra navegar até onde a rede foi lançada na noite anterior. E mais meia hora pra rede vir à superfície, trazendo suas presas. Daqui pra frente, se não houver nenhuma novidade, serão mais sete horas, sem intervalo, até tudo terminar.

E demora um pouco até aparecer o primeiro peixe-sapo, não é fácil, não é só jogar a rede não. Também tem que contar coma sorte e com anos e anos de experiência pra saber onde jogar a rede.

“O Cordeiro de Deus vai continuar sua viagem, tem muito sapo pra capturar por aí, muito peixe-sapo. E o Globo Mar, como é a tradição, deixa um presentinho”, diz Paglia, que completa: “Pronto. Nossa história está contada, mas a navegação continua. Até a próxima”.

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17 Respostas para “Globo Mar navega pela região sul do país em busca do valioso peixe-sapo”

  1. 1
    ADRIANA ROSE:

    Moro em Praia Grande – SP, nos fins de semana pesco em São Vicente, este peixe é muito comum lá e é até chamado de “praga” pelos pescadores, já que ao ser fisgado leva todo o chicote de pesca, com ele, para baixo das pedras!! Alguns, peixes, são de bom tamanho e sempre são descartados.

  2. 2
    fernando dell antonia:

    como pescador esportivo, moro em Praia Grande, SP, adoro tudo que se refere ao mar e como não podia deixar de ser as reportagens do Ernesto Paglia são um espetáculo. Eu não sabia nem da existencia deste peixe com todo este valor comercial. Parabens Globo Mar

  3. 3
    ari carvalho:

    Pesco sempre na Pouca Farinha¨- Guaruja – SP e estou acostumado a pegar este peixe, não comia antes pois achava que era venenoso como o baiacu. Passarei a saborea-lo a partir de agora, obrigado Ernesto Paglia e Globo Mar.

  4. 4
    cristiani soraia do nascimento:

    meu tio faz parte desta tripulação e a maioria dos tripulantes moram em nossa querida terra Penha-SC

  5. 5
    izamaraoliveira:

    eu adorei ha reportagem nunca tinha ouvido falar sobre este peixe sapo

  6. 6
    elizete portes:

    Eu e meu filho de oito anos, assistimos a reportagem e amamos.

  7. 7
    Paulo Eduardo:

    Bom dia, Ernesto.
    Gostei,muito da tua reportagem,sobre, o peixe Sapo(tamburil);porem
    nao conseguimos,comprar aqui, no Brasil,ja, comprei certa vez em Sao Paulo;
    ja liguei para Florianopolis e nao tive resultado.gostaria muito de adquiri alguns fitets,pois,oArros de Tamburil e divino.Informe onde comprar.
    Parabens pela reportagem.

  8. 8
    Rosi:

    Boa tarde! Acabo de ver o programa. Muito bom ! Os felicito. Conheço o peixe sapo, qualidade excelente, muito apreciado na Espanha e também muito caro, pra quem pode! Pena que aqui é dificil de encontrar. Não sei porque não tem mercado,sendo que tem outros peixes muito mas caros. :)

  9. 9
    Eliana Andrade:

    Moro em Bragança, Nordeste do PA, na região do salgado por aqui esse peixe é conhecido como pacamum, nome dado pelos pescadores. É muito mais gostoso quando deixa no sal para comer 1 ou 2 dias após.

  10. 10
    adriano:

    otimo programa

    pena é o hórario, falta programa de pesca na tv brasileira

    temos que investir mais nesse tipo de programa

  11. 11
    Valter Porto:

    Ernesto,
    A matéria é fantastica, lamento que não temos a hábito de comer esse peixe no Brasil.

  12. 12
    Valmir:

    como ja foi comentado acima,tambem moro em S.Vicente onde observo a pesca desse peixe e descartado ao mar,como ele é limpo e como prepara-lo.
    mais uma linda matéria parabens…

  13. 13
    sidelma maciel cardoso:

    eu sou visinha do cordeiro nao tinha visto a reportagem no dia mas acabei de ver e adorei e muito bom vcs faseren essas reportagems a respeito de peixe pois temos o abto de comer peixe sempre mas nao tive oportunidade de esperimentar esse ainda

  14. 14
    Edson Geronimo:

    boa noite sou biólogo e realizo taxidermia como posso obter um exemplar do peixe sapo para taxidermia e coloca-lo na coleção didatica do museu da universidade que estudo.

  15. 15
    Eliane:

    Parabéns … Um programa fantástico … Pecado que não consigo ver sempre…. Esse peixe-sapo é uma delicia… Aqui na Itália custa caro… Mas se faz maravilhosos pratos com ele.. E sem espinhas…
    E maravilhoso conhecer os nossos mares e seus frutos…

  16. 16
    erika silva:

    Muiitoo IiNteresaante essa reportagen eeu nunca vii um peixe sapo desse ><

  17. 17
    silvano:

    To morrendo de saudades deste maravilhoso programa. e gostaria de saber quando vcs vao voltar ao ar nao demorem.aquele abraço. os maranhenses amam vcs bjs

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