Casa onde Ariano Suassuna morou na infância funciona como museu, em Taperoá, na Paraíba — Foto: Beto Silva/TV Paraíba
Esta terça-feira (23) marca os 10 anos da morte de Ariano Suassuna, um dos principais nomes da literatura brasileira. Paraibano que teve sua história marcada por um assassinato político e se revelou um dos gênios da cultura nordestina, Ariano refletiu em várias de suas obras vivências na cidade de Taperoá, no Cariri paraibano, onde morou durante a infância. A casa onde ele viveu se tornou um museu, mantido até hoje pela família Dantas Vilar.
Ariano Suassuna nasceu em 1927, na capital paraibana. Ele era filho do então deputado e ex-governador da Paraíba, João Suassuna, que foi morto por motivos políticos no Rio de Janeiro, em 1930, e de Rita de Cássia Dantas Vilar. Ariano foi o oitavo dos nove filhos do casal.
Depois da morte do pai, Ariano, os irmãos e a mãe se mudaram para o Sertão paraibano. Até os primeiros anos de vida, a família morou na fazenda Acahuan, na região de Sousa. Depois, ainda na infância, os Dantas Vilar foram para Taperoá, na microrregião do Cariri. Lá o escritor formou sua base literária até se mudar para a capital pernambucana Recife, onde viveu a maior parte de sua vida.
Em Taperoá, Ariano Suassuna morou em uma casa construída pelo próprio pai, que segundo familiares, sonhava em voltar para o Cariri paraibano após encerrar sua vida política. O desejo de João Suassuna motivou a construção da casa para onde Rita Dantas Vilar voltou, já viúva, com nove filhos. Durante alguns anos, o lugar foi o refúgio da família, que se escondia da perseguição política.
Na casa, Ariano formulou suas primeiras memórias de infância. Cada cômodo serviu como inspiração para diversas obras literárias escritas pelo jovem Ariano anos depois, já em Recife.
Fotografias de Ariano Suassuna e sua família estão espalhadas na casa onde ele viveu em Taperoá, na Paraíba — Foto: Beto Silva/TV Paraíba
No romance "Dom Pantero no Palco dos pecadores", última obra publicada por ele, o escritor relata algumas da memórias da casa onde viveu na infância, e narra o retorno a Taperoá, já na vida adulta, quando viu o lugar repleto de danos.
"Foi no ano de 1960 que, depois de uma longa ausência no Recife, voltei a Taperoá (...)
Cuidei de reassegurar-me pelo reencontro pela casa onde
Cicatrizado pelo ferimento de 1930, fora tão feliz ao lado de meus irmãos e minha mãe (...)
De longe, vendo a casa e a torre que tanto significavam para mim, minha alma cantando correu para elas (...)"
Memórias eternizadas
Décadas depois, já depois inclusive da morte de Ariano Suassuna, a casa tão querida por ele voltou a ser refúgio de suas memórias. Ainda que não mais em vida, o escritor teve seu legado preservado no local, que se transformou em "Museu Casa Ariano Suassuna".
Letreiro com fôrma armorial, de Ariano Suassuna, estampa fachada de casa onde ele viveu na Paraíba — Foto: Beto Silva/TV Paraíba
O museu foi fundado em outubro de 2015 por Manuel Dantas Vilar, sobrinho de Ariano, e Dantas Suassuna, filho dele. A ideia surgiu a partir da necessidade que a família do escritor sentiu da própria Taperoá, ao perceber que muitas pessoas visitavam a cidade em busca de conhecer a história do autor do "Auto da Compadecida".
"Muita gente vem pra Taperoá em busca das coisas de Ariano. E a família tentou reunir aqui o melhor dele para oferecer a quem busca, e também para apresentar a quem não conheceu", explicou Manuel.
A partir da iniciativa deles, várias obras de Ariano Suassuna e de sua esposa, Zélia Suassuna, foram reunidas no lugar. Fotografias, textos escritos pelo próprio dramaturgo, quadros... São diversas peças que ajudam a contar a história de Suassuna e sua relação com Taperoá.
"Foi aqui que o mini Ariano aprendeu a ler, escrever, teve contato com a escola, com o mundo fora da casa, com as fazendas... Aquela Taperoá que ele tanto fala nas suas aulas espetáculo ou nas suas obras, tem sempre como centro essa casa", explicou o sobrinho do dramaturgo.
Fotografias de Ariano Suassuna no museu que funciona na casa onde ele morou, na Paraíba — Foto: Beto Silva/TV Paraíba
Um dos responsáveis pela manutenção do museu, Dantinhas, como é conhecido o filho de Manelito Dantas, primo-irmão de Ariano Suassuna, explica também que todas as obras presentes no lugar consideram "o valor emocional e afetivo que ele (Ariano) tinha pela casa", bem como "a importância que ele dá ao lugar também na sua literatura".
O museu é aberto a visitação gratuita mediante agendamento prévio. Apesar de abrigar várias e importantes criações de Ariano Suassuna, o museu é mantido por iniciativa da própria família. Uma forma de retribuir à cidade e a região por tudo o que representaram para o dramaturgo.
"Ariano levou muito de Taperoá para o mundo, e agora a própria cidade se orgulha de ter esse filho ilustre aqui", finalizou Manuel.
Ariano por Taperoá
Além da casa onde morou na infância, Ariano Suassuna também nutriu admiração e viveu momentos em família que refletiram em seus textos em vários outros lugares de Taperoá. Um desses lugares foi a Fazenda Carnaúba, propriedade de Manelito Dantas, primo-irmão de Ariano.
A fazenda se tornou, e ainda hoje é considerada, uma das mais importantes para a agropecuária nordestina. Foi lá, inclusive, que Manelito e Ariano pesquisaram e consolidaram a criação de cabras para produção de leite.
Seu Manelito Dantas, primo de Ariano Suassuna, era engenheiro e pecuarista — Foto: Arquivo/TV Cabo Branco
Joaquim Dantas Vilar, filho de Manelito, relata que Ariano e Manelito nutriam uma amizade profunda, se consideravam "primo-irmãos", e juntos se tornaram importantes nomes para o desenvolvimento do nordeste, cada um na área que lhes despertava paixão.
"Ele (Ariano) vinha sempre [na Fazenda Carnaúba] nas férias com os filhos, e depois com os netos. Papai (Manelito) mostrou o lado fértil do nordeste semiárido, ao nordestino e ao Brasil", relatou.
Em um vídeo disponibilizado pela família deles, Ariano relata que passou a ser sócio de Manelito depois de uma conversa que teve com um dos seus irmãos. A sociedade chegou ao fim depois de um tempo, mas a união dos primos é refletida até hoje em Taperoá e em toda a Paraíba.