Garimpo no Tapajós, no Pará — Foto: Chris Ratcliffe / WWF-UK
Pesquisadores lançam, nesta terça-feira (21), o Instituto Amazônico do Mercúrio (Iamer) em Belém.
A iniciativa inclui diversas instituições públicas, incluindo universidades federais, em um esforço conjunto para enfrentar a contaminação por mercúrio nos estados da Amazônia, combatendo o "apagão" de dados e desenvolvendo estratégias de enfrentamento.
O instituto nasce com a ambição de expandir e estabelecer ao menos um polo de testagem de contaminação em cada estado da Amazônia Legal.
Com a estrutura, o IAMER é primeira rede dedicada especificamente ao problema da contaminação por mercúrio com abordagem integrando pesquisa científica, treinamento profissional e engajamento comunitário.
Coordenadora do Iamer e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Maria Elena Crespo López destaca que instituto surge da necessidade de ter acesso a dados confiáveis e realistas para embasar políticas públicas na Amazônia.
Atualmente tramita no Senado um Projeto de Lei (nº 1011/2023) que visa estabelecer a Política Nacional de Prevenção da Exposição ao Mercúrio no Brasil. Os dados produzidos na Amazônia podem ser exemplo em nível nacional do que a política prevê em termos de sistema de controle para exposição ao mercúrio.
López afirma que “o problema da contaminação por mercúrio na Amazônia necessita de abordagem multifacetada que integra conscientização, monitoramento, alternativas econômicas e políticas públicas inclusivas. Com essas estratégias, é possível proteger a saúde das populações amazônicas, preservar o meio ambiente e garantir a sustentabilidade econômica da região”.
A presença de mercúrio na Amazônia é um problema complexo, com efeitos sobre a segurança alimentar, a saúde pública e o meio ambiente.
O mercúrio não se decompõe facilmente, o que o leva a entrar em ciclo contínuo de deposição e remoção entre o solo, os corpos d'água e a atmosfera.
O ciclo permite que a substância percorra grandes distâncias, afetando não apenas quem está no entorno das áreas contaminadas, como povos e comunidades tradicionais, incluindo ribeirinhos e indígenas, mas também quem vive em áreas urbanas.
Dados recentes indicam que peixes contaminados com mercúrio estão disponíveis para consumo humano em mercados de várias cidades amazônicas, tanto nas regiões mais afetadas pela mineração, como a bacia do Rio Tapajós, quanto em áreas metropolitanas como Belém, onde não há atividade mineradora.
“O consumo de peixe contaminado com mercúrio pode levar a graves problemas de saúde, incluindo danos neurológicos e outras doenças crônicas. Portanto, é crucial implementar medidas eficazes para combater o uso irregular e monitorar continuamente os níveis de contaminação em peixes e outros alimentos, a fim de proteger a saúde da população e preservar o meio ambiente”, afirma a professora.
Uma cerimônia marca o lançamento do Iamer envolvendo comunidade acadêmica, poder público, sociedade civil no campus da UFPA, em Belém.