Conhecido por juntar rap e samba, o cantor Marcelo D2 enxerga uma improvável relação entre essa mistura de gêneros e sua cor de pele. “Eu nasci no subúrbio do Rio, não sou preto nem branco, sou pardo. Minha vida sempre foi um conflito – e o rap sempre me deixou muito confortável com isso.”
É essencialmente de rap o disco que ele está lançando, “Nada pode me parar”. “Das 15 faixas, só uma é tocada [com instrumentos tradicionais]”, afirma o líder do Planet Hemp em entrevista o G1. “Eu tinha acabado de gravar um disco de samba, cantando Bezerra da Silva. Estava com aquela coisa: preciso fazer um disco de rap.” Assista no vídeo acima à entrevista com Marcelo D2.
D2 acha que o novo trabalho tem “uma arrogância no sentido bom da palavra”, e esse é outro dado que ele joga na conta do rap. “A coisa legal que o rap me deu foi não ter medo do mundo, falar que o mundo é meu também.” Em seguida, no entanto, explica que viver de música não era a opção inicial. “Nunca tive sonho de fazer música, eu queria ser skatista profissional. Só que acho que não tinha talento para isso, e acabei virando músico (risos).”
Quem deu o incentivo, segundo D2, foi Skunk, um amigo que morreu de Aids antes de o Planet Hemp fazer sucesso. “Ele mudou muito a minha vida. Foi o cara que me que olhou minhas letras e falou: ‘Caramba, vamos fazer uma banda!’. Se não fosse ele, eu não estava aqui. [Viver de música] era um sonho dele pra caramba, mais do que o meu.”
do Planet Hemp no Lollapalooza 2013 (Foto: Valéria
Gonçalvez/Estadão Conteúdo e Raul Zito/G1)
Filme
A amizade entre a dupla, que durou apenas três anos, vai ser tema de um filme. Na previsão de D2, começa ser rodado em “agosto ou setembro, talvez”. O intérprete do cantor não está definido, mas o protagonista antecipa as presenças de Nanda Costa (a Morena de “Salve Jorge”) e Stepan Nercessian. “O filme é do [cineasta] Johnny Araújo, Ele dirigiu ‘Coé’, ‘Loadeando’, alguns clipes meus. E fez o filme do Chorão, ‘O magnata’”, afirma.
Neste ponto da entrevista, D2 relembra o vocalista do Charlie Brown Jr., morto em março. “Vejo o Chorão mais como um amigo do que como o cara do Charlie Brown Jr. A falta que faz é muito mais o amigo do que o ídolo, o músico.” O assunto “amizade” prossegue quando o Planet Hemp vem à tona. A banda ficou parada durante toda a década passada, mas agora está fazendo shows. “A gente fez a escolha certa: acabar a banda. Acho meio ruim quando você começa a virar cover de você mesmo.”
Em julho, o grupo grava um DVD, e ainda se apresenta no Lollapalooza de Chicago, em agosto. Até lá, D2 pretende seguir trabalhando “Nada pode me parar”. A operação para divulgar o álbum inclui uma espécie de loja temática itinerante – a primeira está armada em São Paulo, onde aconteceu a entrevista.
Ali, vendem-se itens como bonés, camisetas, peça de skate e fone de ouvido, sempre com imagens associadas ao artista. “A coisa de fazer a loja começou com a ideia de que o disco não estava me bastando mais. Quero mostrar um trabalho maior do que Além do que adoro fazer produto”, justifica D2. “O que eu estou buscando aqui é mostrar uma coisa maior do que só meu rap, meu ego. A ideia é ficar aqui um mês, depois levar para Nova York, Los Angeles, Porto, Lisboa, Paris, Porto Alegre, Curitiba... Conforme a turnê for andando, quero levar comigo, explicar para as pessoas o que está acontecendo.”