Por Luisa Belchior


O que podemos esperar para os próximos dias na Síria

O que podemos esperar para os próximos dias na Síria

Após 13 anos de guerra civil e 50 anos de ditadura na Síria, forças rebeldes entraram na capital Damasco e reivindicaram o controle do país no domingo (8).

Ao longo do dia, milhares de pessoas saíram às ruas de Damasco para celebrar. Capitais europeias também registraram comemorações de refugiados sírios. Mas a pergunta sobre o futuro do país ficou no ar:

Afinal, quem governará a Síria agora?

"Hoje (domingo) estamos celebrando, mas amanhã (segunda-feira) começaremos o trabalho duro", disse Hind Kabawat, professora síria do Centro para Religiões, Diplomacia e Resolução de Conflitos da universidade George Mason, à rede de TV Al-Jazeera.

"Temos que trabalhar juntos para construir um governo democrático. Essa transição só pode ser feita e decidida pelos sírios, mas precisamos do apoio de todo o mundo".

Todas as declarações apontam para um governo dos rebeldes do HTS, o grupo sunita que fez os avanços de território nas últimas semanas até Damasco e reivindica ter derrubado o regime de Bashar al-Assad.

Nesta segunda-feira (9), o HTS afirmou ter designado seu primeiro-ministro para formar um governo de transição. Em comunicado, o grupo disse estar “prestes a terminar de controlar a capital e preservar a propriedade pública”, e que um novo governo começaria a trabalhar “imediatamente” após ser formado.

O atual premiê da Síria, Mohammed Ghazi al-Jalali, afirmou que continuaria à frente do governo até que fosse feita a transição para o novo regime.

No domingo, o grupo deu indicações de que vai querer se perpetuar no poder. O líder do HTS, Mohammed al-Golani, disse que "o futuro é nosso".

Também chamou a conquista de "uma vitória para a nação islâmica" — o HTS, que se originou na Al-Qaeda, é um grupo sunita e religioso, e há o temor de que um eventual governo dos rebeldes resulte em restrições a mulheres e perseguição a fiéis de outras religiões.

Em um discurso feito dentro de uma mesquita em Damasco e sob aplausos de uma plateia formada em maioria esmagadora de homens, Al-Goni disse, entretanto, que protegerá as minorias.

Mas o líder do HTS não deixou claro como será o novo governo. Não explicou, por exemplo, se o grupo vai tentar governar sozinho ou se buscará uma composição com outros rebeldes e demais opositores do regime Assad.

Também não falou sobre eleições na Síria, país que viveu os 50 últimos anos em uma ditadura.

Fragmentação

Líder rebelde Abu al-Golani diz que queda de Assad é 'vitória para a nação islâmica'

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Mas, mesmo que formem seu próprio governo, os rebeldes do HTS também enfrentarão um desafio: a profunda fragmentação interna de poder na Síria.

Ainda sob o regime de Bashar al-Assad, cada região do país era controlada por um grupo diferente: as tropas de Assad conseguiam governar a região central e a costa mediterrânea, enquanto o controle das outras regiões eram divididos por grupos rebeldes que não são necessariamente aliados.

Existem, ainda, diversos grupos políticos de oposição a Assad que estão exilados no exterior e podem querer voltar ao país e reivindicar participação do poder.

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Comunidade internacional comemora e vê risco

Também ainda é uma incógnita como a comunidade internacional vai ser relacionar com o HTS. Mohammed al-Golani, por exemplo, é procurado pelos Estados Unidos, que oferecem US$ 10 milhões por informações que possam levar à sua prisão.

Em manifestação após a tomada do poder pelos rebeldes, o presidente dos EUA, Joe Biden, comemorou o fim do regime, mas expressou cautela.

"Até que enfim, o regime de Assad acabou", afirmou Biden, para complementar: "Este é um momento de riscos e incertezas. Os EUA trabalharão com parceiros e interessados para ajudá-los a aproveitar esta oportunidade."

Mais cedo, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, havia dito algo semelhante:

"A ditadura cruel de Assad caiu. Essa mudança histórica na região oferece oportunidades, mas não sem riscos."

Haid Haid, consultor do instituto de relações internacionais Chatham House, vai no mesmo sentido.

“Pela primeira vez, há a possibilidade de que o que pode vir a seguir possa ser melhor do que hoje. Com certeza, há o risco de que possa ser pior. Mas, pela primeira vez, há mais de uma possibilidade", disse Haid à agência de notícias Reuters.

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