France Presse

13/03/2015 06h48 - Atualizado em 13/03/2015 10h11

Suécia propõe interrogar Assange em Londres sobre acusações de estupro

Promotoria sugeriu enviar magistrado ao Reino Unido para interrogatório.
Fundador do WikiLeaks está refugiado na embaixada do Equador no país.

Da France Presse

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, concede entrevista nesta segunda 918) na embaixada do Equador em Londres (Foto: John Stillwell/AP)O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, na
embaixada do Equador em Londres (Foto: John
Stillwell/AP)

A promotoria sueca anunciou nesta sexta-feira (13) que deve propor o envio de um magistrado a Londres para interrogar Julian Assange, fundador do site WikiLeaks, no caso de duas mulheres que o acusam de estupro.

"A promotora Marianne Ny enviou um requerimento aos advogados de Julian Assange para saber se aceitaria depor em Londres e passar por um exame de DNA", afirma um comunicado.

O anúncio representa uma mudança da justiça sueca, que até o momento era contrária às demandas de Assange de prestar depoimento em Londres.

Desde junho de 2012, Assange está refugiado na embaixada do Equador da capital britânica para evitar a ordem de prisão que a Grã-Bretanha deseja cumprir caso deixe a representação diplomática.

O advogado de Assange, Per Samuelsson, afirmou que o fundador do WikiLeaks aceitará a proposta.

"Cooperamos com a investigação. Ele aceitará", disse o advogado, antes de destacar que o cliente está "feliz" com o passo adiante.

Samuelsson disse ainda a possibilidade de prestar depoimento em Londres é um primeiro passo para demonstrar a inocência do cliente. "É algo que pedimos há quatro anos. É o caminho a seguir para que seja declarado inocente", disse o advogado.

Acusações
O australiano nega as acusações de estupro de duas suecas, que remontam a 2010, e teme que se viajar para a Suécia será extraditado mais tarde aos Estados Unidos por seu papel na divulgação de 250.000 telegramas diplomáticos americanos e 500.000 notas militares secretas pelo WikiLeaks.

A promotoria afirmou que mudou de posição porque vários fatos atribuídos a Assange prescreverão em agosto de 2015, em menos de seis meses.

"Minha posição é que as condições para tomar o depoimento na embaixada de Londres são tais que a qualidade da audiência teria carências. Por isto, deve estar presente na Suécia para um eventual julgamento. Esta posição continua sendo a mesma", disse Ny.

"Mas agora começa a faltar tempo e, por consequência, tenho que aceitar uma perda de qualidade na investigação", completou.

Agora, a Grã-Bretanha terá que aceitar uma investigação em seu território por magistrados estrangeiros e o Equador terá que abrir as portas da embaixada.

Quito concedeu asilo a Assange em agosto de 2012, mas não conseguiu aplicar a medida, já que o australiano não recebeu salvo-conduto para deixar a embaixada e seguir até o aeroporto.

Assange foi acusado por duas mulheres de estupro. As duas o hospedaram em suas casas por ocasião de duas conferências na Suécia.

O australiano afirma que as relações com as duas mulheres foram consensuais.

Esta é a primeira vez que a justiça sueca manifesta interesse pelo DNA de Assange, apesar de não ter informado sobre o uso do material.

"Eles já têm o DNA dele", disse o advogado de defesa.

Ny admitiu não ter certeza se a investigação poderá progredir com uma audiência.

"Há uma incerteza sobre onde poderia nos levar".

Elizabeth Fritz, a advogada de uma das demandantes, comemorou a decisão.

"Queremos que a investigação avance e para isto era necessário mudar de opinião sobre o local da audiência", afirmou em um comunicado.

Mil dias na embaixada
Julian Assange completará 1.000 dias na embaixada equatoriana na próxima segunda-feira (16), um período de confinamento que ele compara a viver em uma estação espacial.

Assange pediu refúgio no modesto apartamento em 19 de junho de 2012 para evitar a extradição para a Suécia.

A embaixada fica no elegante distrito de Knightsbridge, mas não é muito grande e o australiano vive em um pequeno quarto dividido em um escritório e uma sala de estar, com acesso a uma cozinha modesta.

Com a ameaça de prisão da polícia britânica caso deixe o edifício, ele faz exercícios em uma esteira de corrida e utiliza uma lâmpada de luz solar artificial para compensar a falta da luz natural. Ele aparece poucas vezes na varanda para falar com simpatizantes e com a imprensa.

Agora, com a mudança de postura da promotoria sueca, o caso pode avançar. Assange se recusou a viajar para a Suécia por considerar que as acusações têm motivações políticas e são uma armadilha para uma possível extradição aos Estados Unidos.

O presidente do Equador, Rafael Correa, afirmou que Assange pode ficar na embaixada o tempo que considerar necessário.

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