Pela terceira vez em cinco semanas, os diplomatas das grandes potências e o Irã discutem nesta quarta-feira (20) em Genebra o programa nuclear de Teerã, mas, antes mesmo da retomada das negociações, o líder supremo iraniano reiterou que seu país não recuaria em seus "direitos nucleares".
"Eu insisto na consolidação dos direitos nucleares do Irã", declarou o aiatolá Ali Khamenei em um discurso transmitido ao vivo pela televisão, pedindo aos negociadores iranianos que respeitem as "linhas vermelhas" do programa nuclear, que incluem o enriquecimento de urânio em solo iraniano e a recusa de fechar a instalação nuclear subterrânea de Fordo.
Em seu discurso, o guia também afirmou que Israel estava "fadado à extinção", uma frase que deve complicar as negociações em Genebra, já que as potências ocidentais desejam garantias da segurança de Israel como parte de um acordo com Irã.
A retomada das negociações sobre o polêmico programa nuclear do Irã tem provocado grande agitação diplomática, mobilizando as grandes potências, pressionadas por Israel e lembradas pelo Irã da oportunidade única para resolver esta crise.
Discussões bilaterais vão acontecer durante toda a manhã, com destaque para um encontro entre os chefes da diplomacia do Irã, Mohammad Javad Zarif, e da União Europeia, Catherine Ashton, que preside as negociações.
Uma reunião plenária entre o Irã e os 5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido mais a Alemanha) está programada para o início da tarde.
Dança diplomática
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, viajou nesta quarta-feira para Moscou em caráter de emergência para encontrar o presidente Vladimir Putin, após garantir o apoio da França durante uma visita do presidente François Hollande.
Este último, que manteve uma conversa telefônica com o presidente iraniano, Hassan Rohani, evocou 'uma possibilidade real' de resolver a questão nuclear no Irã.
"Eu não sei se seremos capazes de chegar a um acordo esta semana ou na próxima semana", considerou por sua vez o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Mas, durante uma reunião na Casa Branca, ele pediu aos líderes do Senado que dessem uma chance às negociações, e para que não votassem por um reforço das sanções já existentes contra o Irã.
Já o primeiro-ministro britânico, David Cameron, telefonou na terça-feira (19) ao presidente Rohani, um primeiro contato direto há "mais de uma década". "O Irã defenderá energicamente os seus direitos nucleares" e rejeitará "qualquer discriminação", ressaltou o presidente iraniano ao primeiro-ministro.
Rohani também esteve em contato telefônico com o presidente chinês, Xi Jinping, para quem afirmou que o Irã "deseja um acordo que preserve os seus direitos e pelo qual provará que seu programa nuclear é totalmente pacífico", segundo a agência de notícias IRNA.
Ele exortou a China a "agir contra as exigências excessivas de certos países", referindo-se à França, que obteve durante a última reunião, no início de novembro, um endurecimento do texto do acordo elaborado pelo Irã e pelos Estados Unidos. Teerã recusou o texto final.
A rodada anterior de negociações foi concluída em 9 de novembro, em Genebra, sem resultados concretos. No entanto, todos os participantes elogiaram os progressos, conquistados em grande parte pela política de abertura do presidente Rohani desde a sua eleição em junho.
No Congresso americano, em Washington, alguns democratas e republicanos pretendem votar um novo pacote de sanções econômicas contra Teerã, convencidos de que as punições anteriores levaram os líderes iranianos à mesa de negociações e que o fechamento do cerco levaria-os à rendição.
Um grupo de seis influentes senadores democratas e republicanos, incluindo o ex-candidato presidencial John McCain, expressou nesta terça-feira suas preocupações, em uma carta dirigida ao secretário de Estado americano, John Kerry. Eles exigem de Teerã mais esforços do que apenas a desaceleração de suas atividades de enriquecimento de urânio.
"Embora o acordo provisório sugira que o Irã está potencialmente pronto para abrandar temporariamente sua busca por armas nucleares, ele poderia permitir que o país continue a se mover em direção a esse objetivo, sob o pretexto de negociações", consideraram.