Americana de nome 'Sheeka' viraliza ao contar que homenageia Xica da Silva
Uma jornalista norte-americana de 40 anos já coleciona milhares de visualizações nas redes sociais por contar a história por trás do nome dela. Mesmo sendo nascida nos EUA e sem nenhuma ascendência brasileira, ela se chama Sheeka, em uma homenagem à Chica da Silva, por causa do filme de 1976, estrelado pela atriz Zezé Motta.
No vídeo, Sheeka conta que os pais dela viram o filme e adoraram o nome "Xica", da forma como foi estilizado para o longa.
Para que os norte-americanos pronunciassem da forma correta, fizeram algumas alterações: o "x" virou "sh", o "i" virou "ee", e o "c", "k" — mesmo assim, eles ainda não falam da forma mais adequada.
"Eu sempre fui curiosa para saber sobre o meu nome. Primeiro perguntei para os meus pais, quando criança, e eles me contaram a história. Aos 20 e poucos, comecei a pesquisar mais a fundo sobre o filme. Ano passado procurei saber sobre sua inspiração e li a biografia feita pela autora Júnia Ferreira Furtado", contou Sheeka, em entrevista ao g1.
Os pais lembram que descobriram a existência do filme graças a um cinema perto de uma universidade no bairro onde moravam, em Tucson, no Arizona.
"A gente morava perto da Universidade do Arizona, e o filme foi anunciado por lá, provavelmente no jornal da universidade, porque tinha um cinema na região", completou June Strickland, mãe de Sheeka, também ao g1.
Sheeka e o filho, caminhando pelas ruas de Diamantina. — Foto: Sheeka Sanahori/Acervo Pessoal
Visita ao Brasil
Por causa dessa curiosidade, Sheeka decidiu viajar mais de 7 mil quilômetros, saindo de Atlanta, onde mora atualmente, até Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, onde Chica da Silva viveu durante o Brasil Colônia — ou Arraial do Tijuco, ou Tejuco, na época.
O objetivo principal dela era, claro, conhecer a Casa Chica da Silva, que foi transformada em museu. Por lá, voltou a viralizar por conhecer um jardineiro de nome John Lennon, em homenagem ao eterno beatle.
"Minha parte favorita do museu foi o jardim atrás da casa. Também sou jardineira, então ver todas as plantas que não temos nos EUA foi especial. E foi uma ótima coincidência conhecer o jardineiro John Lennon, cujo nome também é inspirado em uma pessoa famosa", disse Sheeka.
Sheeka na varanda do museu Casa da Chica da Silva. — Foto: Sheeka Sanahori/Acervo Pessoal
Sheeka visitou o Brasil com o filho de sete anos, durante seis dias de feriado que ele tinha na escola. Além da cidade histórica, eles conheceram o Museu dos Brinquedos, em Belo Horizonte, e o Inhotim, em Brumadinho, na Grande BH.
Gravar o vídeo que viralizou sequer estava nos planos dela.
"A bateria do carro que eu aluguei morreu e precisei esperar duas horas para que alguém viesse recarregar. Então, fiz o vídeo porque não tinha mais nada para fazer", brincou Sheeka.
Antes, ela já havia visitado o Rio de Janeiro e São Paulo com o marido, em 2015. "Tem muito mais que eu quero conhecer desse país lindo. Espero ir a Salvador um dia", completou.
Sheeka e o filho no museu Inhotim, na Grande Belo Horizonte. — Foto: Sheeka Sanahori/Acervo Pessoal
Sheeka voltou para os EUA apaixonada por Minas Gerais! — Foto: Sheeka Sanahori/Acervo Pessoal
Quem foi Chica da Silva?
Sheeka afirmou que nunca teve um professor ou conheceu uma pessoa nos EUA que soubesse a história de Chica da Silva. Ela mesma contou para amigos e conhecidos, que agora dominam e compartilham a memória da "escrava que virou rainha" — título recebido por ela, hoje contestado.
No Brasil, a personagem histórica virou não somente filme, mas também novela, de 1997, estrelada por Taís Araújo. Apesar disso, ainda assim, muitos não conhecem a história de Chica da Silva.
Zezé Motta como Chica da Silva em filme de Cacá Diegues, em 1976. — Foto: BBC
A historiadora Júnia Ferreira Furtado, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é autora de "Chica da Silva e o Contratador dos Diamantes - O Outro Lado do Mito", de 2003, lida por Sheeka e considerada a biografia mais completa da personagem. Na obra, ela é descrita como uma mãe de família dedicada, leal e religiosa.
Filha de um português com uma africana, foi escravizada e alforriada após ser comprada por João Fernandes. Teve 13 filhos com ele e, com isso, teria garantido uma posição de prestígio social, o que era quase impossível para mulheres negras da época.
Desde então, Chica não só inspirou telinhas e telonas, mas também biografias, poesias, músicas e até enredos de escola de samba.
"Eu conheci a música de Jorge Ben Jor em homenagem a ela graças aos comentários do vídeo que viralizou. Eu escutei desde então e amei!", revelou a americana Sheeka, que não esconde o orgulho do nome em homenagem à figura histórica brasileira.
Zezé Motta em Xica da Silva — Foto: BBC
Casa onde viveu Chica da Silva, ainda na época colonial. — Foto: Reprodução/Arquivo Público Mineiro