Por Roberto Peixoto, Kellen Barreto, g1


Uma visão de drone mostra a devastação do incêndio florestal em meio à fumaça na Amazônia, em Lábrea (AM) (6 de setembro) — Foto: Bruno Kelly/Reuters

A área desmatada na Amazônia foi de 6.288 km² entre agosto de 2023 e julho de 2024, de acordo com números oficiais do governo federal divulgados nesta quarta-feira (6) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Apesar das queimadas de agosto e setembro, quando comparado ao último levantamento do Inpe, houve uma queda de 30,6% do total da área desmatada entre as duas temporadas. Na edição anterior, esse número foi de 9.064 km², entre agosto de 2022 e julho de 2023.

Os números são do relatório anual do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), considerado o mais preciso para medir as taxas anuais. Ele é diferente do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), que mostra os alertas mensais – e que já sinalizava quedas na devastação nos últimos meses e no último ano.

Com essa redução de 2776 km², a taxa divulgada este ano é a menor para uma temporada do Prodes desde 2017.

"Se existe um tema tenso dentro e fora do país é desmatamento... mas estamos colhendo os frutos dessa ação integrada com políticas estaduais e o setor privado", afirmou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

"Conseguimos resultados importantes, reduzindo o desmatamento de mais de 9 mil km² para 6 mil km², uma queda de 45%. Isso é compromisso e trabalho em conjunto. O que faz a diferença são as ações de ordenamento territorial e os instrumentos econômicos e regulatórios, não apenas comando e controle", acrescentou.

Nos últimos 20 anos, o índice atingiu sua marca mais alta em 2004, quando 27,7 mil km² foram desmatados (veja gráfico abaixo).

Porém, depois disso, quando levado em consideração o período seguinte, houve uma queda constante nesses números, e a temporada com menor desmatamento na Amazônia em toda a série histórica do Prodes foi em 2012, com 4,5 mil km².

A situação só se inverteu novamente em 2015, quando a área desmatada aumentou, chegando a 10.129 km², em 2019; 10.851 km², em 2020; e 13 mil km², em 2021.

O número apenas voltou a cair no último ano da gestão de Jair Bolsonaro (PL), atingindo a marca de 11.594 km². Bolsonaro, porém, assumiu o governo com uma taxa inicial de desmatamento em torno de 7.500 km², a qual não apresentou reduções quando comparada com o índice do começo do seu mandato.

"É uma ótima notícia em um dia de grande revés para a agenda de clima, por conta da eleição de Donald Trump. O número é expressivo e mostra que a eliminação do desmatamento no Brasil é possível. Se o presidente Lula fala sério em assumir papel de liderança na agenda de clima, este é o momento. E o desmatamento zero é o caminho", avalia Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima (OC).

Para a rede de entidades ambientalistas, essa redução expressiva do desmatamento na Amazônia é um passo positivo que mostra o potencial do Brasil em cumprir suas metas climáticas. No entanto, o OC alerta que, para avançar ainda mais ruma às metas de campanha de Lula, o governo deve resolver contradições internas, "conter pressões do Congresso por projetos que enfraquecem a proteção ambiental e aumentar sua ambição climática", incluindo o fim do desmatamento até 2030 e a limitação dos combustíveis fósseis.

“O mundo precisa de um líder na agenda de clima, e o governo Lula tem todas as chances de assumir esse papel. Compromissos pelo fim do desmatamento e a eliminação do uso de combustíveis fósseis são o passaporte para essa liderança”, acrescenta Astrini. “Os números de desmatamento de 2024 são uma enorme credencial para o Brasil, mas é preciso ir além. Precisamos de ambição e ousadia".

Números do Cerrado

O Cerrado perdeu 8.174 km² de vegetação nativa entre agosto de 2023 a julho de 2024. O número representa uma queda de 25,7% em relação ao apurado no período anterior (11.002 km²) e a primeira redução em quatro anos no bioma.

O balanço também é do projeto Prodes Cerrado, mantido pelo Inpe, órgão do Ministério de Ciência Tecnologia e Inovações (MCTI).

Ainda de acordo com os dados do governo, o desmatamento caiu 76,4% nos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, região conhecida como Matopiba, principal área de desmate no bioma.

Entre agosto de 2023 e julho de 2024, os quatro estados reduziram a área desmatada em relação ao período anterior. Na Bahia, a queda foi de 63,3%, seguida por 15,1% no Maranhão, 10,1% no Piauí e 9,6% no Tocantins.

A manutenção do Cerrado é condição para a distribuição da água pelo Brasil. O bioma, por ter o solo mais alto, absorve a umidade e leva água para 8 das 12 bacias importantes para o consumo de água e geração de energia no país.

Ainda segundo o ministério, com o resultado dessa queda nos dois biomas, houve uma redução nas emissões de gases de efeito estufa de 400,8 milhões de toneladas de CO2 e por desmatamento na Amazônia e Cerrado em relação ao ciclo 2021/22.

"Ao mesmo tempo em que podemos comemorar três anos consecutivos de queda no desmatamento da Amazônia, devemos temer pela continuidade dessa tendência. Estamos vendo um ataque sem precedentes à Moratória da Soja, que foi um dos mais eficazes instrumentos para redução na velocidade do desmatamento da Amazônia, com reconhecimento internacional", comenta Daniel Silva, especialista em Conservação do WWF-Brasil.

LEIA TAMBÉM

Queimadas na Amazônia afetam ar de todo país

Queimadas na Amazônia afetam ar de todo país

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!