O ex-vereador João Emanuel Moreira Lima, usou um falso chinês e fingiu falar mandarim para aplicar um golpe de R$ 50 milhões, segundo a Polícia Civil. Ele e outras quatro pessoas foram presas nesta sexta-feira (26) durante a operação 'Castelo de areia', em Cuiabá. O grupo é acusado de montar uma empresa de fachada para captar recursos e aplicar golpes.
A polícia também cumpriu durante a operação um mandado de condução coercitiva contra o irmão de João Emanuel, o advogado Lázaro Roberto Moreira Lima. Lázaro é diretor jurídico da empresa, conforme a polícia. O G1 não conseguiu localizar a defesa dos dois irmãos. O ex-vereador foi preso em um hospital particular de Cuiabá, onde está internado após ter passado por uma cirurgia.
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Segundo o delegado Luiz Henrique Damasceno, da Delegacia Regional de Cuiabá, João Emanuel é vice-presidente da empresa e pode ser considerado um dos 'cabeças' do grupo.
A organização tem sede na Avenida Historiador Rubens de Mendonça (Avenida do CPA) e outro escritório em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá.
Uma das vítimas do golpe afirmou à polícia que o ex-vereador, que também é advogado, usou uma pessoa, se passando por falso chinês para induzi-la a um suposto investimento com parceria na China.
“João Emanuel teria até traduzido o mandarim para essa pessoa [a vítima]. Ele se passou por intérprete, sem falar o mandarim. A farsa era muito grande. A fachada da empresa transmitia uma imponência e segurança para dar credibilidade”, declarou o delegado.
Conforme o delegado, no caso do falso chinês, o ex-vereador convenceu o investidor a emitir 40 folhas de cheque, totalizando, R$ 50 milhões. A empresa de fachada prometia juros reduzidos e pedia adiantamentos financeiros. As vítimas pagavam e não tinham acesso ao empréstimo.
“O Lázaro [irmão de João Emanuel] é consultor jurídico da empresa, uma empresa montada para aplicação de golpes. Na nossa concepção ele tem envolvimento direto nessa organização criminosa”, comentou Luiz Henrique.
Golpes
A organização criminosa atuava desde 2014 com o nome de outra empresa. As vítimas identificadas até o momento são pessoas com alto poder aquisitivo, como empresários, produtores rurais e empreiteiros. Há registros de vítimas em Nova Mutum, Sorriso, Campo Verde, Sapezal, Tangará da Serra, no interior de Mato Grosso, e nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Brasília.
“O grupo oferecia empréstimos a juros baixos, com o argumento de que vinham de bancos internacionais. Esses clientes acabavam acreditando, era uma empresa e uma farsa muito bem organizada”, explicou o delegado Flávio Henrique Stringueta, da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO).
de Cuiabá (Foto: Renê Dióz/ G1)
A polícia acredita que o número de vítimas e o montante financeiro possam ser maiores do que o apurado até o momento. “Algumas vítimas chegaram a ser levadas para o Chile, onde havia escritórios montados, tudo para realmente poder arrecadar os valores a título de seguro e adiantamento. Um dos contratos firmados chegava a R$ 1 bilhão. Não que esse prejuízo tenha sido concretizado”, afirmou Stringueta.
A sede da empresa em Cuiabá possui quatro salas mobiliadas, porém, não havia pessoas trabalhando no empreendimento. A operação apreendeu alguns veículos, sendo duas BMW, além de computadores, cheques com valores entre R$ 67 mil a R$ 99 mil, documentos e outros materiais. Tudo será periciado pelos policiais.
João Emanuel continua preso no hospital particular de Cuiabá sob escolta policial. A polícia aguarda ele receber alta médica para encaminhá-lo ao Centro de Custódia de Cuiabá. A investigação sugere que os criminosos tenha conseguido dar golpes que ultrapassem R$ 500 milhões.
Um casal, que mora em uma casa de luxo em Chapada dos Guimarães, a 65 km de Cuiabá, foi preso em Itaberaí, Goiás. Outros dois homens, apontados como membros que atraíam os clientes, também foram presos. Todos devem responder pelos crimes de estelionato e organização criminosa.