26/08/2016 16h10 - Atualizado em 26/08/2016 16h19

Ex-vereador usou falso chinês e fingiu falar mandarim para golpe, diz polícia

João Emanuel foi preso pela Polícia Civil em hospital particular de Cuiabá.
Organização pode ter cometidos golpes que passam de R$ 500 milhões.

Denise SoaresDo G1 MT

Ex-vereador da Câmara Municipal de Cuiabá, João Emanuel Moreira Lima (Foto: Reprodução/TVCA)Ex-vereador da Câmara Municipal de Cuiabá, João Emanuel Moreira Lima (Foto: Reprodução/TVCA)

O ex-vereador João Emanuel Moreira Lima, usou um falso chinês e fingiu falar mandarim para aplicar um golpe de R$ 50 milhões, segundo a Polícia Civil. Ele e outras quatro pessoas foram presas nesta sexta-feira (26) durante a operação 'Castelo de areia', em Cuiabá. O grupo é acusado de montar uma empresa de fachada para captar recursos e aplicar golpes.

A polícia também cumpriu durante a operação um mandado de condução coercitiva contra o irmão de João Emanuel, o advogado Lázaro Roberto Moreira Lima. Lázaro é diretor jurídico da empresa, conforme a polícia. O G1 não conseguiu localizar a defesa dos dois irmãos. O ex-vereador foi preso em um hospital particular de Cuiabá, onde está internado após ter passado por uma cirurgia.

Segundo o delegado Luiz Henrique Damasceno, da Delegacia Regional de Cuiabá, João Emanuel é vice-presidente da empresa e pode ser considerado um dos 'cabeças' do grupo.

A organização tem sede na Avenida Historiador Rubens de Mendonça (Avenida do CPA) e outro escritório em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá.

Uma das vítimas do golpe afirmou à polícia que o ex-vereador, que também é advogado, usou uma pessoa, se passando por falso chinês para induzi-la a um suposto investimento com parceria na China.

“João Emanuel teria até traduzido o mandarim para essa pessoa [a vítima]. Ele se passou por intérprete, sem falar o mandarim. A farsa era muito grande. A fachada da empresa transmitia uma imponência e segurança para dar credibilidade”, declarou o delegado.

Um dos locais de buscas é o prédio do Soy Group, localizado na Avenida do CPA (Foto: Assessoria/Polícia Civil de MT)Um dos locais de buscas é o prédio do Soy Group, localizado na Avenida do CPA (Foto: Assessoria/Polícia Civil de MT)

Conforme o delegado, no caso do falso chinês, o ex-vereador convenceu o investidor a emitir 40 folhas de cheque, totalizando, R$ 50 milhões. A empresa de fachada prometia juros reduzidos e pedia adiantamentos financeiros. As vítimas pagavam e não tinham acesso ao empréstimo.

“O Lázaro [irmão de João Emanuel] é consultor jurídico da empresa, uma empresa montada para aplicação de golpes. Na nossa concepção ele tem envolvimento direto nessa organização criminosa”, comentou Luiz Henrique.

Organização tem um escritório na Avenida Historiador Rubens de Mendonça (Avenida do CPA), em Cuiabá (Foto: Assessoria/Polícia Civil de MT)Organização tem um escritório na Avenida Historiador Rubens de Mendonça (Avenida do CPA), em Cuiabá (Foto: Assessoria/Polícia Civil de MT)

Golpes
A organização criminosa atuava desde 2014 com o nome de outra empresa. As vítimas identificadas até o momento são pessoas com alto poder aquisitivo, como empresários, produtores rurais e empreiteiros. Há registros de vítimas em Nova Mutum, Sorriso, Campo Verde, Sapezal, Tangará da Serra, no interior de Mato Grosso, e nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Brasília.

“O grupo oferecia empréstimos a juros baixos, com o argumento de que vinham de bancos internacionais. Esses clientes acabavam acreditando, era uma empresa e uma farsa muito bem organizada”, explicou o delegado Flávio Henrique Stringueta, da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO).

João Emanuel foi preso nesta quarta-feira (26) em Cuiabá (Foto: Renê Dióz/ G1)João Emanuel está internado em um hospital
de Cuiabá (Foto: Renê Dióz/ G1)

A polícia acredita que o número de vítimas e o montante financeiro possam ser maiores do que o apurado até o momento. “Algumas vítimas chegaram a ser levadas para o Chile, onde havia escritórios montados, tudo para realmente poder arrecadar os valores a título de seguro e adiantamento. Um dos contratos firmados chegava a R$ 1 bilhão. Não que esse prejuízo tenha sido concretizado”, afirmou Stringueta.

A sede da empresa em Cuiabá possui quatro salas mobiliadas, porém, não havia pessoas trabalhando no empreendimento. A operação apreendeu alguns veículos, sendo duas BMW, além de computadores, cheques com valores entre R$ 67 mil a R$ 99 mil, documentos e outros materiais. Tudo será periciado pelos policiais.

João Emanuel continua preso no hospital particular de Cuiabá sob escolta policial. A polícia aguarda ele receber alta médica para encaminhá-lo ao Centro de Custódia de Cuiabá. A investigação sugere que os criminosos tenha conseguido dar golpes que ultrapassem R$ 500 milhões.

Um casal, que mora em uma casa de luxo em Chapada dos Guimarães, a 65 km de Cuiabá, foi preso em Itaberaí, Goiás. Outros dois homens, apontados como membros que atraíam os clientes, também foram presos. Todos devem responder pelos crimes de estelionato e organização criminosa.

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