Fundação Getúlio Vargas lança índice específico para acompanhar os aluguéis
A Fundação Getúlio Vargas lançou nesta terça-feira (11) um índice novo que pode substituir o IGP-M nos contratos de aluguel.
Esta já é a terceira casa em que a Leila mora desde o início da pandemia. O aumento no valor dos contratos anteriores não permitiu que ela permanecesse nos outros imóveis. Ela até tentou negociar com os proprietários.
“Ele não quis entender. Ele falou que do mesmo jeito que estava difícil para gente, também estava difícil para ele, que ele precisava, que ele contava com o dinheiro, que o dinheiro era a renda dele, querendo ou não também”, conta a leiturista Leila Lopes Santos.
Inflação alta, queda na renda, desemprego. Tudo isso afetou bastante o mercado imobiliário e, com isso, as renegociações entre inquilinos e proprietários aumentaram na pandemia.
Nesta terça, a FGV lançou um novo índice de variação de aluguéis residenciais, o Ivar, que mede as mudanças mensais desses preços levando em conta os contratos efetivamente fechados. Um índice que, segundo economistas, reflete de maneira mais fiel o que realmente está acontecendo nesse mercado.
Não existe uma lei que obrigue a adoção de um índice específico para os alugueis. Ele é escolhido nas negociações entre proprietários e inquilinos. Desde 1989, quando o IGP-M começou a ser calculado, ele passou a ser a principal escolha para a correção dos contratos. Mas, em 2021, fatores que não tem relação com o aluguel jogaram o índice nas alturas. Em maio, por exemplo, o IGP-M ficou em quase 40% no acumulado de 12 meses.
“O IGP-M estava medindo ali os efeitos da desvalorização cambial, aumento do preço dos derivados do petróleo, aumento de preço de commodities... Ele não foi desenvolvido para essa finalidade. Já o Ivar não. O Ivar é o índice que observa o comportamento dos preços dos alugueis no mercado imobiliário. Então, ele está muito mais aderente à realidade desse segmento”, afirma o economista André Braz.
Por isso mesmo, o Ivar passa a ser mais uma opção para futuros reajustes de aluguel residencial. Para fazer o histórico do índice, os pesquisadores acompanham 10 mil contratos assinados entre inquilinos e proprietários em quatro capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre.
Nas contas dos pesquisadores, de dezembro de 2019 - pouco antes da pandemia - à dezembro de 2021, esse índice sofreu queda de 0,61% no acumulado de 12 meses, bem abaixo dos índices tradicionais de inflação.
“Reflexo do momento que passa a economia brasileira. A gente tem os trabalhadores que não estão tendo reajuste de salários, tendo que enfrentar pressões de gastos e outros itens que não podem ser negociados, como energia elétrica, alimentação, combustíveis e, por conta disso, onde é possível haver negociação, a gente está observando uma desaceleração dos valores dos alugueis, por exemplo”, explica Paulo Picchetti.