O aumento colossal das denúncias de roubo de água em São Paulo provocou a reação da companhia de abastecimento.
Era para ser coisa simples: a água caiu aqui, o relógio mexeu ali, e no fim do mês chega a conta daquilo que você usou. Mas quando o relógio não está com defeito e anda preguiçoso demais para girar, das duas, uma: ou o consumidor está economizando, ou está fazendo gato.
Do começo de 2015 para cá, aumentou em 405% a quantidade de denúncias de furto de água na Grande São Paulo, o que ajudou a Sabesp a encontrar 24% mais irregularidades. Isso significa 19 mil fraudes e mais de 50 flagrantes por dia que estavam miando silenciosamente por aí.
“Quem está furtando não está pagando por essa água e sem dúvida não vai ter a mínima preocupação em economizar”, afirma o professor da USP Pedro Luiz Côrtes, especialista em gestão de recursos hídricos da USP.
Eles fazem coisas como as que estão escondidas no jardim que a Sabesp inaugurou faz três meses por causa do aumento das denúncias. É onde a empresa treina os “caça-gatos” para eles se virarem na rua.
Bastaram dois dias acompanhando as equipes trabalhando na rua, em cima de denúncias, para entender por que esse treinamento é tão útil.
Primeiro, foi encontrada uma fraude no Centro. Um caso clássico. A água tinha sido cortada há mais de um ano, mas um conector foi instalado na rede de distribuição da Sabesp após o corte. Um cano segue por baixo da calçada até chegar a um corredor. Lá dentro, ele é conectado a uma torneira que não tem relógio, já que ele foi retirado. Ou seja, o que está sendo distribuído é água desviada.
Vendedor: “Sabia que estava fraudado, sim.”
JN: “O senhor mandou fazer?”
Vendedor: “Não, eu não. Quando eu comprei verbalmente aqui o ponto para trabalhar, já existia isso aí.”
Com tanta consciência do que é errado, foi preso. É gato no mercadinho de bairro, é gato no enorme motel da zona leste – 60 quartos consumindo água que, se alguém pagava, não era o dono do lugar.
Segundo os técnicos da Sabesp, a fraude não envolvia nenhuma obra elaborada, nem nada desse tipo. Na verdade, o pessoal colocou um dispositivo grudado no relógio e, por causa dele, o relógio não roda direito, não funciona.
“Esse motel, por histórico, já deve média de 2.500 m3 de água. Hoje, está em torno de 800 m3, um terço do que consumia", diz Flávio Joaquim dos Santos, do setor operacional de irregularidades da Sabesp.
O gerente foi preso.
JN: “O senhor tinha noção do dispositivo?”
Gerente: “Nada a declarar!”
Mas vai ter muito o que pagar.
A pena de prisão para quem faz gato de água é de um a quatro anos.