Chega a dezessete o número de cidades do Rio grande do Sul que decretaram situação de emergência por causa das enchentes. Além de deixar quase duas mil famílias fora de casa, o excesso de chuvas prejudica as principais culturas agrícolas do estado.
A lavoura de arroz parece até um rio. São 22 mil hectares de plantação debaixo d'água, em Uruguaiana, na fronteira com a Argentina.
“Já sei de casos que o produtor que chegou a fazer três vezes o plantio da sua área e hoje está com enchente de novo em cima da área. Então, daqui para frente não tem mais tempo hábil para plantar”, afirma o vice-presidente da Fronteira Oeste da Federarroz, Ariosto Pons.
E quem conseguiu vai colher menos. “Uns 10%, 15% da produção. O Rio Grande do Sul gera em torno de 8 milhões de toneladas, então tirando 1 milhão de toneladas, um milhão e pouco de prejuízo”, conta o engenheiro agrônomo Sérgio Borba.
A lavoura deveria estar coberta com uma lâmina de, no máximo, cinco centímetros de água. Mas há locais em que a profundidade já chega a um metro.
Nas terras do Leandro, a enchente impediu o plantio de um terço da lavoura. “Esses trinta e cinco hectares aqui pela situação que está hoje já não vale pena mais plantar porque já saiu do período de planta e tem muita água em cima, até essa agua baixar é complicado”, diz o agricultor Leandro Vieira de Souza.
“A planta não foi feita para ficar debaixo d’água e ainda mais com o peso da água em cima. Atrasa e dependendo da quantidade de dias que ficar debaixo d’água, ela vai cobrar a conta lá na frente, aumentando o preço do produto e colhendo menos”, explica Carlos Eduardo de Souza, técnico agrícola do Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA).
O escoamento da produção também pode ser prejudicado. Em Cachoeira do Sul, a ponte da BR-153 está interditada, o que preocupa municípios como Agudo, que decretou situação de emergência pela segunda vez em três meses.
“Vários acessos estão interrompidos e temos um prejuízo tremendo da lavoura de arroz em virtude da inundação dessa cultura que é uma das principais economias de Agudo”, diz o prefeito do município, Valério Vili Trebien.
O excesso de chuva também dificulta o cultivo da soja. No norte do estado, a enxurrada abriu crateras no meio das plantações.
“Lavou tudo e vai um investimento alto agora para recuperar”, conta o agricultor Victor Paulo Mafalda.
É tanto barro que os agricultores não conseguem entrar com as máquinas nas lavouras. O produtor Edibaldo Meller Redel já semeou a área de 100 hectares três vezes. Só que a chuvarada levou tudo embora.
“A terra foi lavada, mas você passa na beira da estrada e vê a água que escorreu das lavouras. Toda essa água levou os micronutrientes da planta”, ele explica.