Quando Carolina, Fernanda, Yumi e Maíra estão em eventos cervejeiros, a conexão entre as quatro é inevitável: são as japas da cerveja. O nome do grupo que hoje é cervejaria começou com uma foto que Fernanda postou com Carolina, em que a legenda descrevia “as japas”.
Das quatro, três trabalham em cervejarias. Fernanda Ueno é cervejeira na Colorado, Carolina Okubo é gerente de produção e responsável pelo controle de qualidade na Invicta, e Maíra é sócia da 2Cabeças. Yumi Shimada é diretora de arte, entrou nesse universo quando fez o curso de sommelier, e a experiência como designer agora é essencial para a criação dos rótulos.
Da brincadeira na rede social, o contato entre as cervejeiras evoluiu. O gosto pela cerveja a e as mesmas origens orientais foram suficientes para unir o quarteto em um grupo no Facebook, onde começaram a pensar em produzir uma cerveja.
Wasabiru, em 2014.
Primeira receita
Fernanda e Carolina, que moram em Ribeirão Preto, começaram a trabalhar em uma receita, mexendo em uma panela pequena, e testaram diferentes ingredientes de origem japonesa. A que ficou melhor foi com wasabi, raiz forte usada como tempero. Levaram a amostra até a casa de Yumi, em São Paulo, para prova. Assim nasceu a Wasabiru, uma American Pale Ale lançada em 2014 e que deu origem à Japas Cervejaria.
Mas o caminho até aí foi diferente para cada uma. Fernanda e Carolina são formadas em Engenharia de Alimentos e se especializaram no segmento de cerveja. Carol descobriu a paixão pela bebida ainda na faculdade, quando sugeriu o tema para um trabalho.
“Desde a época em que comecei a estudar, ficava impressionada com as possibilidades de criar receitas, misturar ingredientes, descobrir novas combinações”, conta.
Para Fernanda, o gosto pelo mundo cervejeiro veio de família. “Meu pai era cliente da Colorado desde o início da cervejaria, e sempre tive esse contato com a Colorado e a cerveja. Na faculdade, eu comprava, levava para os professores experimentarem”, lembra.
Maíra, que mora no Rio de Janeiro, aprendeu a fazer cerveja na Inglaterra, quando procurava algo para estudar “que não fosse marketing”. Primeiro estudou vinho, mas logo descobriu que gostava mais de cerveja. Já Yumi começou o curso de sommelier por sugestão do namorado, e acabou se apaixonando pelo universo.
“Gostava muito de cerveja, mas não conhecia. Fui fazer para aprender, e lá conheci a Fernanda. Começamos a conhecer gente, ir em eventos, e o negócio foi tomando corpo”, conta.
Mergulho na cultura
Trazer elementos da cultura japonesa não fez sucesso apenas no mercado cervejeiro, mas também entre os descendentes do país asiático, que se sentem identificados com a proposta da Japas. Elas recebem mensagens de descendentes que querem experimentar e de muita gente que sem relação direta com a cultura nipônica, mas com desejo de presentear amigos ou conhecidos.
Os rótulos, desenvolvidos por Yumi, são também os responsáveis por gerar essa identificação. Para a Wasabiru e a Matsurika (segunda cerveja da Japas), ela fez um trabalho de ilustração com colagem, à mão, que depois foi passado para o computador.
“É muito legal para a gente reviver nossa cultura. Eu mesma não tinha muita identificação, e hoje é como se eu estivesse aprendendo sobre minha própria história”, diz Yumi.
Mulheres no comando
Apesar de o mercado cervejeiro estar cada vez mais aberto, na visão das Japas ainda há preconceito com o fato de quatro mulheres comandarem uma cervejaria, sem a presença de um homem sócio.
“Somos quatro mulheres proprietárias de uma cervejaria, em um mercado que ainda é muito machista. É uma forma da gente falar que estamos fazendo cerveja e é normal, e que ninguém precisa ficar surpreendido quando vê quatro meninas. Somos profissionais do mercado”, diz Carolina.
Busca por novos sabores
Em abril, as sócias vão ao Japão em busca de novos ingredientes. A pesquisa vai passar por um roteiro de cervejarias japonesas, e talvez uma tentativa de produzir uma cerveja colaborativa com empresas locais. Fernanda Ueno dá uma pista dos planos da Japas:
“Começamos estudos de estilos, e queremos lançar cervejas mais fortes em teor alcoólico. Como estamos no início, tínhamos lançado cervejas mais leves. Agora vamos trazer ingredientes diferentes”, diz.