Largar tudo e cair na estrada. Esse é o sonho de muita gente que não perde uma oportunidade de viajar. Se for com cerveja, melhor. Foi isso o que os irmãos argentinos Lucas e Federico Martino, 30 e 28 anos, respectivamente, fizeram. Apaixonados por cerveja e viagem, eles decidiram comprar um motorhome abandonado, reformá-lo, transformá-lo numa cervejaria caseira ambulante e perambular pela América – e até onde mais for possível.
Tudo começou com a vontade de viajar. Os irmãos, publicitários por formação, naturais de Mendoza, mas moradores de El Bolsón, na Patagônia, trabalhavam durante a alta temporada de turismo para juntar dinheiro para suas viagens. Até que cansaram disso. “Nós gostamos de viajar e queríamos fazer uma viagem longa”, conta Lucas. A ideia de fazer cerveja ao longo do caminho veio depois. Produzida sob o nome de Sur Cerveza Artesanal, a bebida ajuda a custear a jornada e é trocada por comida e outros produtos. Durante as paradas, eles produzem uma IPA, uma Ale vermelha, uma Pilsen e uma cerveja escura.
E isso rende algumas histórias curiosas, uma delas ocorreu já no Brasil, quando estavam em Santa Catarina na cervejaria de um amigo argentino. Ao saberem do Festival Paranaense de Cerveja, decidiram subir para Curitiba. Mas havia alguns obstáculos. “Estávamos distantes e era muito caro para participar”, conta Federico.
Mesmo assim, pegaram a estrada e no caminho trocaram mensagens por Whatsapp com a organização, que os convidou a participar do evento. Só que ainda era necessário chegar. “Só tínhamos 12 litros de cerveja e 7 reais. Trocamos cerveja por diesel, contando nossa história para gerente de postos”, lembra, e assim conseguiram estar no festival. Lá, eles trocaram experiências e dicas de produção de cerveja. E também beberam bastante, claro. “Experimentamos muitas cervejas boas”, lembra Lucas.
Boa recepção
A recepção aos Hermanos não poderia ser melhor, segundo os próprios. Apesar de poderem dormir no motorhome, a dupla consegue estadia em casas de pessoas que se oferecem para recebê-los, em cervejarias e em hostels. Ao longo de seis meses, já passaram por cidades argentinas, uruguaias e brasileiras como Barra de Ibiraquera (SC), Curitiba, Santos, Paraty e Rio de Janeiro.
Esta última era um dos objetivos da dupla, que queria aproveitar a Cidade Maravilhosa nesse momento esportivo. Estacionados em um hostel no bairro de Botafogo, já fizeram amigos. O único problema foi terem suas bicicletas furtadas. “Exceto pelas bikes, estamos gostando de tudo”, conta Federico.
Mão na massa
Lucas e Federico completaram no Rio de Janeiro os primeiros seis meses na estrada. Mas a jornada começou muito antes, em meados de 2015, quando compraram um motorhome Bedford 300, de 1964. O veículo, que estava abandonado, precisava de uma reforma geral. E ela foi feita pelos dois com ajuda de amigos.
Só que ninguém tinha conhecimento técnico para isso. “Agora temos, antes não”, diverte-se Federico. Ao longo dos meses, aprenderam a mexer com lanternagem, pintura e tudo mais que era necessário fazer no veículo, que foi adaptado numa mistura de cervejaria, bar (há quatro tanques para chope) e casa. Até uma geladeira para câmara fria há dentro (agora está com o motor estragado). Pronto, ele foi batizado de Motorbar e toda a jornada pode ser acompanhada na página do Facebook com o mesmo nome, com belas e divertidas fotos desde agosto de 2015.
Uma longa e ousada jornada
Os irmãos, que saíram sem dinheiro da Patagônia, têm objetivos ousados. Após o Rio, o motorhome segue pelo Brasil. Primeira parada será em Búzios, mas um dos rumos mais aguardados é o nordeste, ondem eles devem encontrar seus pais, que estarão em viagem. “Gostaríamos muito de conhecer o nordeste, as pessoas falam muito bem de lá”, diz Federico.
Depois do Brasil, seguem pela América Latina, por países como Venezuela, e querem ir até o México e voltar para o Panamá. De lá, o destino imaginado é a Europa, e quem sabe conseguir chegar até a Rússia em 2018. Difícil? Sem dúvida. Mas coragem, desprendimento e alegria para isso eles já mostraram que têm.