Anna Tiemi — Foto: Divulgação
Trabalhar em alto-mar, com uma rotina de turnos de 12 horas e não podendo voltar para a casa durante 14 dias pode ser desafiador para muitas pessoas. Agora imagine essas condições com o acréscimo da responsabilidade de, ao mesmo tempo, gerenciar um time de 159 pessoas. A engenheira mecânica Anna Tiemi Pinto Goto, 52 anos, topou essa missão e tornou-se a primeira gestora de plataforma do pré-sal no Brasil.
Em 2017, após atuar como gerente da P-54, na Bacia de Campos, entrou em um novo projeto e assumiu a liderança da P-69, uma das plataformas do campo de Tupi, que integra a Bacia de Santos. “Peguei a plataforma desde o estaleiro. Chegamos juntos no pré-sal, em agosto de 2018. Tenho muito orgulho de estar nessa função”, comenta Anna.
Com uma produção projetada de 150 mil barris de petróleo e 6 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia, a P-69 tem 160 funcionários embarcados e é a unidade de exploração com a maior presença feminina – 18 mulheres. Além da gerência, elas estão em cargos como técnicas de produção, embarcação e manutenção, comissárias, enfermeiras, rádio operadoras, técnicas em planejamento, técnicas em química, oficial de náutica, engenheiras de suporte e supervisoras de operação.
“Nós mulheres temos um modo diferente de ver, porque a gente se antecipa ao que pode vir a acontecer. Colocamos uma visão de sempre olhar um pouco mais à frente”, avalia Anna, que defende mais mulheres a bordo e acha que a diversidade melhora a percepção geral da plataforma.
Sonho de passar no concurso realizado em 2006
Formada pela Fundação Técnico Educacional Souza Marques, a engenheira tem uma longa história na indústria de óleo e gás. Começou ainda quando frequentava um curso técnico, em 1984. Sete anos depois, foi contratada na Refinaria Duque de Caxias, onde aprendeu muito e conheceu o universo do petróleo. Ficou cerca de 10 anos afastada, dedicando-se à área nuclear, mas concretizou o desejo de retornar. “Em um concurso que prestei em 2006, tive a oportunidade de voltar para a empresa Petrobras, que era meu sonho, já no cargo de engenheira”, relembra Anna.
Desafiada a assumir a gerência de plataformas, ela entende o compromisso do cargo e diz que, independentemente da função, o trabalho offshore exige muito autocontrole e abertura para conviver com diferentes personalidades, como em uma família. “A plataforma é uma cidade que administramos pelo período de 14 dias. Conheço e tenho noção clara da responsabilidade, não só com as pessoas, mas com o patrimônio da empresa, o meio ambiente, a segurança”, afirma a gerente.
Coragem é essencial
Para ela, a segurança deve vir em primeiro lugar. Quem atua nas plataformas recebe treinamentos em primeiros socorros, combate a incêndio, abandono da estrutura e até para sair de um helicóptero em caso de queda no mar. Anna reforça pontos básicos a quem deseja entrar para a carreira em alto-mar: não se pode ter medo de altura, de andar de helicóptero e de ficar confinado no meio do oceano. Para ela, é indispensável ser perseverante.
“Persistência é a palavra-chave para trabalhar a bordo. É interessante, é desafiador, não tem rotina. Mantenham a curiosidade à flor da pele e a humildade para aprender mais coisas a respeito do trabalho. Há sempre muito o que aprender com quem está a bordo”, ressalta.