Agronegócios

Por Gustavo Ribeiro, Rosi Bredofw, g1 ES e TV Gazeta


Seca afeta produção de café na Região do Caparaó no Espírito Santo

Seca afeta produção de café na Região do Caparaó no Espírito Santo

A seca no Espírito Santo impactou agricultores de diferentes culturas no estado. Cafeicultores da Região do Caparaó, conhecida pela produção de café de alta qualidade, apontaram que a safra pode cair para 40% por causa da estiagem. Além do café, a colheita da pimenta-do-reino, no Norte do estado, já está comprometida e caiu pela metade.

Produtores de café acreditam que podem estar enfrentando um dos piores períodos de estiagem dos últimos anos. Situação que causa preocupação para os cafeicultores.

Os dois setores da agricultura comentaram como estão lidando com os diferentes impactos da seca e como esperam passar por esse momento sem sofrerem tantas perdas nos produtos e nos lucros.

Grãos e planta impactados

Grão de café é impactado pela seca e afeta qualidade do fruto na safra na Região do Caparaó, no Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta

O agricultor Alexandre Lacerda está na quarta geração de produtores de café da família, em Dores do Rio Preto, distrito de Pedra Menina. No local, a seca tem causado estresse nas plantas. O produtor monitora os índices de chuva da região desde 2014 e afirmou que a situação atual é inédita.

“Nos últimos três meses, choveu apenas 90 milímetros, muito abaixo dos 200 a 250 milímetros esperados. As plantas estão estressadas e os grãos não completam o ciclo de maturação, passando de verde para seco rapidamente. Estamos enfrentando uma perda significativa na qualidade e quantidade do café, comprometendo a safra de 2024. Este é o período mais longo de estiagem que já enfrentamos, com temperaturas anormalmente altas, chegando a 38 graus em alguns dias", disse Alexandre.

Segundo a Associação de Produtores Rurais de Pedra Menina (APRUPEM), que representa os produtores de café especial da região, com a estiagem prolongada, a produção de café de qualidade, que normalmente representa até 80% da safra, pode cair para 40% ou menos.

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A produção do café arábica é crucial para a economia do estado e do Brasil. Com a qualidade dos grãos impactada, o valor de mercado e a competitividade do café brasileiro no cenário internacional também estão em risco.

“Todos eles estão sendo impactados. Tanto quem está aqui na parte mais alta, quanto os que estão abaixo. Porque essa escassez de chuva, de água, fez com que os grãos de café não tenham polpa, e isso está prejudicando a todos de uma forma geral. Diante de como está hoje, eu acredito que muitos vão ficar na faixa de 40% para baixo, vai dar uma queda bem significativa. Com a falta de chuva faltou qualidade e isso vai refletir no bolso do produtor. O preço do café vai subir com a pouca demanda", relatou o presidente da APRUPEM, Jueselito do Amaral.

Produtores de café na Região do Caparaó, no Espírito Santo, apontam que vivem situação crítica de seca nas lavouras — Foto: Reprodução/TV Gazeta

A falta de chuva afeta o enchimento dos grãos e da planta como um todo. Com a falta de água, as folhas podem ficar amareladas e caem facilmente.

"No processo normal, o café deveria passar pela fase de grão verde, depois o verdoento, se tornar maduro e o produtor colher o grão bem maduro. Esse grão permanece na planta por mais tempo e ele consegue produzir mais açúcares e isso vai interferir na qualidade da bebida. E quando o café passa direto desse grão verde para o seco, esse estágio de produção de açúcares do grão não acontece. Por isso que tem esse reflexo também na qualidade da bebida. A falta de água deixa o grão menor, tem um menor rendimento na peneira, então precisa colher muito mais para ter uma saca", explicou a extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Priscila Nascimento.

Diante dessa situação, a extensionista destacou a importância de pensar técnicas como irrigação e sombreamento para melhorar o microclima das lavouras e garantir a produção de café especial.

“A pouca disponibilidade de água e as altas temperaturas estão impedindo o enchimento dos grãos, resultando em menor rendimento e maior gasto com mão de obra. Além disso, a seca tem aumentado a incidência de doenças como a ferrugem. O manejo adequado e a busca por orientação técnica são essenciais para minimizar os impactos. Recomendamos a irrigação, um manejo nutricional correto e, em algumas regiões, o sombreamento das lavouras para melhorar o microclima e garantir a produção de café especial", pontuou.

Pimenta-do-reino também é afetada

Colheita de pimenta-do-reino cai pela metade no Espírito Santo devido ao calor

Colheita de pimenta-do-reino cai pela metade no Espírito Santo devido ao calor

A atual safra de pimenta-do-reino está comprometida em 50% por causa das altas temperaturas do verão e que se estenderam pelo outono e inverno. Os frutos abortaram e o produtor rural Erasmo Negris disse que o que for colhido será bem pouco.

A floração é a fase mais delicada da pimenta. Se a temperatura estiver boa, ela vai fecundar e o cacho vai ficar com os grãos aparentes. Mas se a temperatura ultrapassar os 30°C, como aconteceu por dias seguidos no estado, boa parte das flores abortam e, com isso, os cachos só conseguem produzir poucos grãos.

Ainda assim, se tiver fecundado e a temperatura estiver alta, o cacho corre o risco de cair.

"O calor, a questão climática que nós tivemos, temperaturas muito altas... A pimenta veio abortando. Já aquela que segurou, os cachos estão muito banguelas", disse o presidente do sindicato rural de São Mateus, Renilton Correia.

Produção de pimenta-do-reino no Espírito Santo diminuiu pela metade por causa das altas temperaturas — Foto: Reprodução/TV Gazeta

O período da fase produtiva da pimenta dura de seis a oito meses, da floração até a colheita. A expectativa de bons frutos ficou para a próxima colheita, com um pé nutrido e com fecundação ideal.

Com os prejuízos já calculados e estabelecidos, o trabalho tem sido de nutrição nos pés adultos. Além disso, um estudo feito com o Incaper de proteção solar vai servir como um conforto térmico para a planta, pensando na próxima safra.

"Aqui nós iniciamos esse projeto com o Incaper desde o ano passado, já prevendo toda essa questão climática que está acontecendo no mundo todo, não só aqui no Brasil. A tendência aqui é que essas plantas venham trazer conforto térmico, para então a pimenta-do-reino conseguir ter uma florada e a florada vingar. E consequentemente o produtor tem mais uma rentabilidade", destacou Erasmo.

Produtores de pimenta-do-reino do Espírito Santo tentam colocar mais sombras para a planta poder se reproduzir melhor — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Mais da metade da pimenta-do-reino brasileira é de origem capixaba, e a safra abaixo da expectativa mexeu com o mercado. Segundo o presidente do Sindicato Rural de São Mateus, a média de prejuízos entre os produtores associados é de 80%.

"O custo de colheita fica caro para o produtor, porque é por produção, e acho que a economia também cai um pouco porque o trabalhador que faz suas compras, aí cai muito a produção", destacou.

A solução para o presidente são plantações em tutores vivos, como o Erasmo está testando na roça de pimenta dele. Onde essa estratégia já foi aplicada, há resultados.

"Você vê que na pimenta mais na sombra os cachos estão mais cheios. Quem teve pimenta com tutor vivo colheu mais. Vai ser uma tendência daqui para frente", finalizou.

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