Agronegócios

Por André Afonso, TV Gazeta


Alerta na lavoura de café: praga preocupa produtores no ES; entenda

Alerta na lavoura de café: praga preocupa produtores no ES; entenda

Uma praga que é muito conhecida no campo continua preocupando os produtores de café no Espírito Santo. O aparecimento de uma nova espécie de cochonilha foi identificado por cafeicultores e até mesmo a forma de atacar as lavouras está diferente: a agressão às plantas não acontece mais apenas na raiz, como era comum, mas também em galhos, troncos e até nos frutos.

A ameaça começa primeiro com alguns grãos pretos no meio de um galho saudável. Depois, surge uma farinha branca e mais frutos escuros. Por fim, o fruto fica todo tomado pela nova cochonilha.

O inseto causador da praga possui uma característica principal que o diferencia de outra espécia, que são filamentos brancos no corpo que lembram duas antenas. É muito diferente da cochonilha da roseta, por exemplo.

Estragos causados pela nova espécie de colchonilha na lavoura de café no Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Foi com os olhos atentos que o produtor rural Gabriel Rampinelli conseguiu identificar a nova praga na sua plantação de café conilon em Linhares, no Norte do Espírito Santo. O local é monitorado pelo menos uma vez por mês.

"A gente roda as lavouras, os nossos talhões, para poder identificar alguma incidência de insetos, pragas e fazer o manejo adequado para as plantas. E de 90 dias para cá, a gente teve a incidência da nova espécie de cochonilha", disse Gabriel.

Nos 45 mil pés da fazenda de Gabriel, o prejuízo ainda não foi grande. A sorte do produtor foi a praga ter atacado os pés adultos e mais resistentes. Mas em plantas pouco desenvolvidas, essa variante pode provocar até a morte.

Nova espécie de colchonilha é diferente da roseta e ainda está sendo estudada por pesquisadores — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Os tipos mais conhecidos dessa praga são combatidos diretamente na raiz, com uma pulverização localizada ou através do sistema de gotejamento.

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Mas, para o combate dessa nova espécie de cochonilha, ainda não existe uma comprovação científica de que esse método também funcione. Isso acontece justamente porque a praga ataca a planta na parte aérea, atingindo folhas, ramos e frutos.

"A gente já está enviando esse material para a taxonomista, que é quem vai identificar realmente as espécies. A gente já tem o relato que podem ser duas espécies diferentes para o café conilon", explicou o pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Renan Queiroz.

Algumas propriedades de produtores de café no Espírito Santo tiveram prejuízo de 30% com ataque da nova cochonilha — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Vale lembrar que o Espírito Santo é um dos maiores produtores de café do Brasil, e que o surgimento dessa nova praga tem uma preocupação muito grande entre os cafeicultores.

Em uma propriedade em Rio Bananal, também no Norte capixaba, com 100 mil pés, o produtor chegou a perder entre 10% a 15% da plantação com a nova praga. A saída foi tentar controlar com os métodos já conhecidos.

"A gente não tinha muita certeza em qual controle seria certo, porque seria uma qualidade nova de colchonilha. Então, a gente foi tentando fazer os controles de maneira que a gente já vinha fazendo com outras qualidades no mesmo manejo. Mas a gente não teve um resultado muito satisfatório", comentou o produtor rural Diego Bachetti.

Em outras plantações, o prejuízo foi ainda maior. Fotos tiradas de uma propriedade na mesma cidade mostram que outro produtor chegou a perder 30% por causa da praga.

Na cidade de Rio Bananal, a preocupação com a nova espécie é ainda maior justamente porque o município é o maior produtor do café conilon do Brasil.

"Dentro dos pilares de sustentação econômica de Rio Bananal, o café conilon tem um protagonismo enorme. Por isso, o nosso foco de trabalho é muito fortemente voltado para essa cultura, porque os impactos causados na cultura do café obviamente ecoam para todas as outras áreas de desenvolvimento do município. A gente precisa estar antenado para que a gente não permita que nós possamos de alguma forma perder esse protagonismo por uma praga", relatou o engenheiro agrônomo do Incaper, Bruno Pella.

A orientação para os produtores é observar a lavoura constantemente — Foto: Reprodução/TV Gazeta

As chuvas dos últimos meses ajudaram a conter o avanço dessa praga, já que a espécie se beneficia com o calor e tempo seco. O próximo passo é aguardar os resultados dos experimentos que vão mostrar qual a forma mais indicada para prevenção e o combate.

"Claro que a pesquisa ainda não tem uma indicação correta, certa do produto, porque nós estamos ainda fazendo testes para indicar a melhor forma de manejo desse produto, do controle dessa colchonilha. Mas infestação muito alta tem que avaliar, porque talvez algum produto que ele já tenha utilizado para a colchonilha roseta possa servir para esse também. Mas tem que ser uma avaliação bem técnica, junto com alguém que dá assistência, para auxiliar o produtor nesse momento de infestação alta", pontuou o pesquisador do Incaper.

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Enquanto isso, a recomendação para o produtor é monitorar a lavoura e procurar o escritório do Incaper na sua cidade. A previsão para o resultado das pesquisas sobre a nova espécie da praga é de seis meses.

"A gente já esteve com alguns técnicos e o principal manejo é estar sempre observando, não deixar aumentar o nível populacional e, observando, não tem muito o que fazer por enquanto. A gente vai ficar em cima até conseguir controlar e arrumar um manejo correto", contou o produtor.

Nova espécie de cochonilha não ataca a raiz do fruto e sim as partes aéreas como as folhas — Foto: Reprodução/TV Gazeta

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