Por Luiza Tenente, g1


Mara Telles, ex-BBB e professora da UFMG, foi chamada de transfóbica por alunos após declaração sobre menstruação — Foto: Globo/Paulo Belote

Alunos de um centro acadêmico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) denunciaram por transfobia a professora e ex-participante do Big Brother Brasil 18 Mara Telles. A docente nega ter sido preconceituosa e diz que está sendo vítima de calúnia e difamação.

O motivo do embate é um tweet postado por Mara em 11 de março, no qual ela critica a expressão "pessoas que menstruam" (usada no lugar de "mulheres que menstruam" para incluir também homens transexuais - entenda mais abaixo).

"Já estou começando a sentir saudades de quando só queriam a 'linguagem neutra', escreveu Mara, na ocasião. "O identitarismo sectário se sente incluído no 'Dia da Mulher', mas omite o nome 'mulher' como beneficiário da distribuição de absorventes? Estou surpresa!!"

Mais abaixo, veja o que Mara e representantes do centro acadêmico disseram ao g1 sobre a denúncia.

'Mulheres que menstruam' x 'Pessoas que menstruam'

Em busca de uma linguagem mais inclusiva, há grupos que criticam a associação imediata da palavra "menstruação" apenas a "mulheres". Eles preferem usar o termo "pessoas", para abarcar homens trans, intersexuais, queer ou não binários que também menstruam.

Segundo os defensores dessa mudança na linguagem, grupos que não se encaixam à definição de "mulher" poderiam se sentir marginalizados ou estigmatizados.

"Muitos homens trans têm útero, ou porque ainda não o retiraram, ou porque não desejam retirá-lo. Depois que eles param de tomar o hormônio masculino, podem menstruar", explica Elaine Maria Frade Costa, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP).

"Há também os não binários, que não se identificam nem como mulheres, nem como homens, e que podem menstruar; e as mulheres trans, que, por não terem útero, não menstruarão. Ao falar 'pessoas', você passa a ser mais inclusivo e a levar todos em conta", diz a especialista.

É importante dizer que não há um consenso nem mesmo entre os grupos que costumam lutar por igualdade. Parte do feminismo argumenta que usar a palavra "pessoa" é, de alguma forma, diminuir a opressão sofrida especificamente pelas mulheres ou reduzi-las apenas às suas funções biológicas.

É o mesmo problema apontado em outras mudanças lexicais, como em "pessoas que gestam" (em vez de "grávidas").

Em artigo publicado na "Folha de S. Paulo" em 1º de dezembro de 2022, a socióloga Djamila Ribeiro disse que não mencionar o termo "mulheres" ao falar de menstruação é um "sexismo biológico".

"Como mulher, me perturba o fato de sermos restritas às nossas funções biológicas, como se não fôssemos seres humanos completos, seres sociais e sujeitos políticos", escreveu.

Transfobia ou liberdade de expressão?

Por causa do post de Mara Telles, o centro acadêmico pediu formalmente à UFMG, no último domingo (12), o afastamento da docente. A universidade afirmou, na quinta-feira (16), que está apurando o que aconteceu e analisando se há necessidade de abrir uma sindicância.

"A UFMG não compactua com comportamentos discriminatórios e preconceituosos movidos por orientação sexual ou com qualquer ação que não esteja alicerçada no respeito às pessoas", afirmou a instituição.

Diante das críticas e da denúncia, Mara relata que acionou sua equipe jurídica para tomar "as medidas judiciais cabíveis" contra "as infundadas alegações".

Ao g1, ela disse que é seu dever "levantar questões que levem os estudantes a pensar criticamente sobre o mundo em que vivemos".

"Gostaria de enfatizar que, ao contrário do que tem sido propagado, questionar a obrigatoriedade do uso da expressão 'pessoas que menstruam' não significa ser transfóbico. É possível e necessário promover o diálogo e o respeito às diferenças sem que isso implique acusações infundadas e práticas autoritárias advindas da cultura de cancelamento.

Já o centro acadêmico declarou ao g1 que a professora, como "pessoa pública", está "dando respaldo para transfóbicos validarem seus discursos".

"A violência contra a população trans é normalizada e alimentada por preconceitos e discriminações como as cometidas hoje por Helcimara [nome completo da professora], e esse é um dos fatores diretamente responsáveis pela banalização da transfobia no Brasil [...]", afirma a entidade.

"Desconhecem a palavra 'pluralidade'", diz ex-BBB

Quando a professora postou o comentário sobre menstruação, fazia referência a uma reportagem sobre o decreto do governo federal para a distribuição de absorventes a pessoas de baixa renda.

Mara, que já afirmou publicamente ter votado no presidente Lula (PT) nas últimas eleições, critica aspectos da militância de esquerda.

"Desconhecem a palavra 'pluralidade'. 'Plural', desde que seja o que eles pensam?", respondeu a ex-BBB a um seguidor. "Movimentos autoritários, à direita ou à esquerda, devem ser combatidos."

Ela também diz que sempre lutou por uma sociedade mais justa e igualitária, e que nunca teve a intenção de ofender ou prejudicar alguém.

Afirma ainda que está recebendo xingamentos, ofensas e comentários etaristas na universidade e em grupos de Whatsapp. "Estou preocupada com minha integridade física e psicológica, pois temo que possa sofrer algum tipo de agressão ou violência."

'Abertamente transfóbica', afirma centro acadêmico

Nas redes sociais, o centro acadêmico emitiu uma nota de repúdio, em que afirma que a professora foi "abertamente transfóbica". O mesmo texto também menciona dados de assassinatos de pessoas trans no Brasil e no mundo.

"A gestão [do Cacs] reforça a necessidade de usarmos uma linguagem que seja inclusiva e acessível para todes", diz.

Nesta quinta-feira (16), um dos representantes do Cacs afirmou ao g1 que o posicionamento da professora Mara torna o ambiente inseguro para os alunos trans da UFMG.

"Desde que o post foi feito, estamos recebendo comentários ofensivos", diz um dos representantes do Cacs.

Mara Telles, ao lado de outros participantes do BBB18 — Foto: Globo/Paulo Belote

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