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Por André Catto, g1


Prédio do Federal Reserve dos EUA em Washington, EUA (maio/2020) — Foto: Kevin Lamarque / Reuters

O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) decidiu cortar os juros do país nesta quarta-feira (18) em 0,25 ponto percentual (p.p.), para a faixa de 4,25% a 4,50% ao ano. A decisão veio em linha com as expectativas.

Esse foi o terceiro corte seguido da taxa. Na reunião de novembro, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) reduziu o referencial na mesma proporção, em 0,25 p.p., enquanto na reunião de setembro o corte foi de 0,50 ponto. A redução gera efeitos no Brasil. (veja mais abaixo)

Em nota, o Fomc afirmou que os indicadores dos EUA sugerem que a atividade econômica do país continuou a se expandir em ritmo sólido, mas com os riscos controlados.

"Desde o início do ano, as condições do mercado de trabalho se suavizaram, e a taxa de desemprego aumentou, mas permanece baixa. A inflação avançou em direção à meta de 2% do Comitê, mas ainda está um pouco elevada", diz o texto.

Essa foi a segunda reunião do Fomc após as eleições presidenciais norte-americanas, que voltaram a colocar o republicano Donald Trump como chefe de Estado da maior economia do mundo.

No comunicado, o Comitê afirmou ainda que os riscos para atingir suas metas de emprego e inflação estão praticamente equilibrados, mas as perspectivas econômicas são incertas — o que mantém o colegiado atento aos riscos.

"O Comitê avaliará cuidadosamente os dados recebidos, as perspectivas em evolução e o equilíbrio de riscos", afirma a nota, indicando que o Fomc pode fazer uma nova pausa no ciclo de queda de juros nos EUA.

"O Comitê estará preparado para ajustar a postura da política monetária, conforme apropriado, caso surjam riscos que possam impedir o alcance das metas do Comitê."

Diante desse cenário, a leitura é de que a incerteza sobre quais serão os efeitos da gestão de Trump na economia dos Estados Unidos também podem afetar as decisões do Fed à frente. Tanto que a decisão desta quarta-feira não foi unânime: a diretora Beth Hammack votou pela manutenção dos juros em 4,50% a 4,75% ao ano.

Efeito 'Trump' na economia dos EUA

A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos já era precificada pelo mercado, mas aumentou as preocupações sobre os efeitos da agenda econômica conservadora e protecionista que o republicano deve carregar durante seu mandato.

Entre as propostas de seu plano econômico, por exemplo, está a elevação de tarifas para produtos importados — incluindo uma guerra comercial com a China — e o corte de impostos no país, além do endurecimento das regras de imigração.

Essas medidas são vistas como inflacionárias pelo mercado e podem — além de trazer impactos para a economia de outros países — obrigar o Fed a manter os juros elevados para conter um eventual aumento de preços.

Nesta quarta-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que novos cortes nos juros dependem justamente de progressos na redução da inflação.

O tom mais cauteloso de Powell, que vem em linha com as incertezas econômicas após a eleição de Donald Trump, abalou Wall Street. Nesta quarta, o movimento foi de forte queda nos índices de ações em meio a dúvidas sobre os custos de crédito no próximo ano.

"Acho que estamos em uma boa posição, mas daqui para frente é uma nova fase e seremos cautelosos sobre novos cortes", disse Powell.

Reflexos no Brasil

A decisão do Fed veio uma semana após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil ter acelerado o ritmo de altas por aqui. No último dia 11, o colegiado subiu a taxa básica de juros (Selic) em 1 p.p., para 12,25% ao ano.

A decisão representa a maior alta dos juros básicos no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a maior escalada desde fevereiro de 2022, quando foi de 1,5 ponto percentual.

Em comunicado, o Copom voltou a citar as incertezas vindas dos Estados Unidos, em especial após a eleição de Donald Trump em novembro.

"O ambiente externo permanece desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed", analisou o Copom.

O potencial aumento da inflação norte-americana pode elevar os juros nos EUA, aumentando o rendimento das Treasuries, os títulos públicos americanos.

Como são considerados os produtos de investimento mais seguros do mundo, as Treasuries com rentabilidades mais altas atraem investidores estrangeiros, que encaminham seus recursos para os EUA e dão força para o dólar.

Em outra perspectiva: o movimento tende a reduzir o volume de investimentos estrangeiros no Brasil, desvalorizando o real — que acumula sucessivos recordes de cotação, acima dos R$ 6, de olho também no quadro fiscal brasileiro.

Além disso, dólar em nível elevado aumenta a pressão sobre a inflação por aqui, com reflexos no ciclo de alta de juros que o Copom tem aplicado.

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