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Por Redação g1 — São Paulo


Problemas climáticos e disparada do dólar aceleram inflação dos alimentos

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O dólar fechou em alta mais uma vez nesta segunda-feira (16), a R$ 6,09, e bateu um novo recorde. É o maior valor de fechamento desde o início do Plano Real, em 1994.

Os investidores estão insatisfeitos com os rumos das contas públicas sob o governo Lula. Além disso, o mercado aguarda que o Congresso vote as medidas propostas em novembro pelo ministro Fernando Haddad para cortar gastos nos próximos anos. É possível que isso aconteça nesta semana, antes do recesso parlamentar.

Para tentar frear a disparada do dólar, o Banco Central fez uma ampla intervenção com leilões de moeda no mercado de câmbio, mas não surtiu feito. O objetivo dos leilões é aumentar a oferta de dólares disponíveis — o que, em tese, faz a cotação cair.

Na sexta (13), o BC havia anunciado que venderia US$ 3 bilhões com compromisso de recompra. Essa modalidade, chamada de leilão de linha, funciona como se fosse um "empréstimo" de dólares do BC para as instituições financeiras.

Além disso, o BC também fez um leilão extra de dólares no mercado à vista, ou seja, um leilão que não exige a recompra da moeda pela instituição. Nesse leilão, foram vendidos US$ 1,63 bilhão ao mercado financeiro. Essa foi a maior intervenção feita pelo BC no mercado à vista desde 2020.

As atenções do mercado continuam voltadas para o noticiário doméstico, em meio às preocupações com a desidratação do pacote fiscal do governo no Congresso Nacional. Nesta tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, visitou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar sobre o tema e comentar sobre as mudanças feitas no texto da reforma tributária pelo Senado.

Uma série de divulgações econômicas importantes previstos para esta semana também seguem sob os holofotes. Entre os indicadores do dia, destaque para o boletim Focus desta segunda-feira. Analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Banco Central passaram a traçar estimativas de juros maiores nos próximos anos, além de uma inflação mais alta em 2024 e 2025.

Além da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na terça-feira, espera-se também a reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) para definição das novas taxas de juros americanas. Na quinta, sai o relatório trimestral de inflação.

O Ibovespa, principal índice de ações da bolsa, encerrou em queda.

Veja abaixo o resumo dos mercados.

Dólar

Ao final da sessão, o dólar subiu 0,99%, cotado a R$ 6,0942, em um novo recorde nominal (sem ajuste pela inflação). Na máxima, chegou a R$ 6,0980. Veja mais cotações.

Com o resultado, acumulou:

  • ganhos de 0,99% na semana
  • alta de 1,56% no mês;
  • avanço de 25,59% no ano.

Na sexta-feira, a moeda norte-americana subiu 0,43%, cotado a R$ 6,0347.

Ibovespa

O Ibovespa encerrou em queda de 0,84%, aos 123.560 pontos.

Com o resultado, acumulou:

  • queda de 0,84% na semana;
  • perda de 1,68% no mês;
  • recuo de 7,92% no ano.

Na sexta, o índice caiu 1,13%, aos 124.612 pontos.

Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair

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O que está mexendo com os mercados?

O quadro fiscal do país continua a fazer preço nos mercados. Nesta segunda-feira, o destaque ficou com a visita do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao presidente Lula, que recebeu alta hospitalar no domingo (15), após ter feito uma cirurgia de emergência para drenar um hematoma na cabeça.

Durante o encontro, Haddad disse que comentou sobre a reforma tributária e o pacote de cortes de gastos enviado ao Congresso com o presidente, afirmando que o apelo do presidente é para que as medidas não sejam desidratadas pelos Parlamentares.

"O presidente disse ontem que ninguém se preocupa mais com a questão fiscal quanto ele. Por isso, o apelo que ele está fazendo é para que as medidas não sejam desidratadas", afirmou o ministro.

"Temos um conjunto de medidas que garante a robustez do arcabouço fiscal e para garantir que vamos continuar cumprindo com as metas nos próximos anos", acrescentou.

O governo enviou ao Congresso no fim de novembro um pacote de medidas para cortar gastos e buscar o equilíbrio das contas públicas. As propostas ainda não foram votadas. O Congresso só tem mais esta semana para fazer isso, antes do recesso de fim do ano.

Uma das principais medidas é uma trava para limitar o aumento do salário mínimo. Com esse pacote, o governo espera poupar R$ 70 milhões nos próximos dois anos.

Haddad afirmou, ainda, que o presidente também se mostrou preocupado com as alterações feitas no texto da reforma tributária que passou no Senado na última quinta-feira.

"Discutimos com ele alguns detalhes que o preocupavam, como a questão das armas [...] e também a questão das bebidas açucaradas, em função da saúde pública", afirmou Haddad.

Na semana passada, ao votar as regras da reforma tributária, o Senado decidiu que a venda de armas não terá o "imposto do pecado", uma dupla tributação que será aplicada sobre bens e serviços considerados prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, como cigarros, bebidas alcoólicas e apostas.

Segundo o ministro, todos os detalhes do que foi alterado na reforma foram discutidos com o presidente, para que ele pudesse "julgar a conveniência de eventualmente orientar os líderes da base".

"O que se espera é que a reforma tributária seja sancionada este ano, com eventuais conciliações entre o Senado e a Câmara em torno da alteração das questões das armas e dos produtos", disse Haddad.

Na agenda doméstica, as atenções ficaram voltadas para a nova divulgação do boletim Focus, que é a sondagem semanal do Banco Central a mais de 100 instituições financeiras para saber o que pensam dos números da economia.

Para este ano, a projeção do mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou de 4,84% para 4,89% da semana passada para essa. Com isso, segue acima do teto da meta de inflação para este ano, que é de 4,50%.

A meta central de inflação é de 3% neste ano – e será considerada formalmente cumprida se o índice oscilar entre 1,5% e 4,5% neste ano. Segundo analistas, o aumento de gastos públicos é um fator que tem pesado para o aumento das projeções de inflação.

Para 2025, a estimativa de inflação subiu novamente na semana passada, avançando de 4,59% para 4,60%, também acima do teto de 4,50%. Para 2026, a expectativa permaneceu em 4%.

Os economistas do mercado financeiro também passaram a prever um aumento maior da taxa básica de juros da economia brasileira nos próximos anos. Na semana passada, o BC elevou os juros pela terceira vez, para 12,25% ao ano e indicou que deve subir a taxa novamente no começo de 2025.

Para o fechamento de 2025, a projeção do mercado para o juro básico da economia subiu de 13,5% para 14% ao ano. Para o fim de 2026, o mercado financeiro elevou a projeção de 11% para 11,25% ao ano.

Para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, a projeção do mercado subiu de 3,39% para 3,42%. Já para 2025, a previsão de alta do PIB do mercado financeiro subiu de 2% para 2,01%.

Já no exterior, o foco ficou com a divulgação de novos indicadores econômicos nos Estados Unidos e na Europa.

A principal expectativa é pela última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do ano, prevista para quarta-feira. A estimativa é que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) faça um novo corte na taxa de juros e dê novos sinais sobre os próximos passos na condução da política monetária.

As novas previsões do Fed podem confirmar as apostas do mercado de que o BC dos EUA será mais contido com o ritmo de cortes em 2025, visto que o crescimento econômico continua forte, a inflação segue persistente e há uma nova agenda econômica mais protecionista (e possivelmente inflacionária) à vista com a posse de Donald Trump como presidente do país.

"O foco principal será o Fed, que deve cortar os juros em 25 pontos-base, mas acreditamos que o Fed reduzirá as expectativas de cortes mais adiante", disseram analistas do SEB.

Para esta reunião, com os investidores precificam uma chance de mais de 97% de uma redução de 0,25 ponto percentual nos juros, de acordo com a ferramenta FedWatch do CME Group.

Na Europa, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, reafirmou que reduzirá ainda mais as taxas de juros se a inflação continuar a se aproximar de sua meta de 2%, já que não é mais necessário restringir o crescimento econômico.

O BCE já cortou as taxas de juros quatro vezes este ano e os investidores estão apostando em um afrouxamento ainda maior da em 2025, já que os temores com a inflação desapareceram em grande parte e o crescimento econômico anêmico é agora uma preocupação maior.

"Se os dados que estão chegando continuarem a confirmar nosso cenário básico, a direção da viagem é clara e esperamos reduzir ainda mais as taxas de juros", disse Lagarde em um discurso em Vilnius.

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