Donald Trump, 47º presidente dos Estados Unidos. — Foto: Carlos Barria/Reuters
O dólar inverteu o sinal positivo visto pela manhã e fechou em queda quarta-feira (6), a R$ 5,67. O recuo da moeda refletiu um movimento de realização de lucros, após uma forte alta no início das negociações ter levado o dólar a atingir os R$ 5,86, conforme investidores repercutiam vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos.
Naquele momento, o resultado do pleito provocou um aumento expressivo nos juros futuros norte-americanos e, como consequência, o dólar também disparou frente a outras moedas. A política econômica protecionista defendida pelo presidente eleito pode prejudicar o controle da inflação dos Estados Unidos e aumentar o endividamento do país.
Taxas de juros mais altas por mais tempo ajudam a valorizar a moeda norte-americana. O dólar turismo, que é a moeda utilizada para quem vai viajar ou fazer compras internacionais em dólar, também recuou para baixo da casa dos R$ 6.
Também está no radar do mercado a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC), prevista para hoje. A projeção é que o colegiado promova uma nova alta na Selic, taxa básica de juros, atualmente em 10,75% ao ano.
A expectativa pelas medidas de cortes de gastos por parte do governo também continuava no foco dos investidores.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Dólar
Ao final da sessão, o dólar recuou 1,26%, cotado a R$ 5,6742. Na mínima do dia, chegou a 5,6647. Na máxima, a R$ 5,8619. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
- queda de 3,33% na semana;
- recuo de 1,85% no mês;
- ganho de 16,93% no ano.
No dia anterior, a moeda caiu 0,63%, cotada a R$ 5,7464.
Ibovespa
Já o Ibovespa encerrou com um recuo de 0,24%, aos 130.341 pontos.
Com o resultado, acumulou:
- avanço de 1,73% na semana;
- ganhos de 0,48% no mês;
- recuo de 2,86% no ano.
Na véspera, o índice encerrou em alta de 0,11%, aos 130.661 pontos.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
O que está mexendo com os mercados?
Apesar do movimento de realização de lucros visto no Brasil, o dia foi de alta no dólar ante várias moedas ao redor do planeta.
Investidores esperam por um fortalecimento da moeda norte-americana nos próximos anos de governos de Donald Trump. Isso porque o republicano defende uma política protecionista com a economia dos EUA, diminuindo o comércio com a China e aumentando as tarifas de importações para outros países, como o Brasil.
"Trump tem batido muito mais forte contra a China e tem atuado para restringir, principalmente, exportações de tecnologia acessível para o país asiático. Ele também tem ameaçado punir países que comecem a operar na moeda chinesa", explicou ao g1 Welber Barral, consultor especializado em comércio internacional.
"Então, com Trump, podemos ter uma sanção indireta — ou seja, uma sanção contra a China e que possa afetar as exportações brasileiras."
Esse cenário poder mexer com a balança comercial brasileira, diminuindo o nível de exportações — o que reduziria a reserva de dólares e poderia pressionar ainda mais a inflação.
Mais que isso, o protecionismo econômico de Trump pode encarecer os preços dos produtos dentro dos EUA e gerar mais inflação no país. Como consequência, o mercado espera ver taxas de juros mais altas na maior economia do mundo nos próximos anos. São elas que servem de referência para o rendimento das Treasuries, os títulos públicos norte-americanos.
Como são considerados os produtos de investimento mais seguros do mundo, as Treasuries com rentabilidades mais altas atraem investidores estrangeiros, que encaminham seus recursos para os EUA e dão força para o dólar.
Segundo William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, a desaceleração do dólar em relação ao real ocorre porque a vitória de Trump já era precificada pelo mercado — e o dólar, inclusive, disparou mais de 6% só na última semana, com isso no radar dos investidores.
"O mercado sempre dá uma exagerada no curto prazo e depois vê que não é bem assim. Até porque o dólar já vinha se valorizando bastante, então será que faria sentido ele continuar performando tão forte assim depois das altas que já haviam sido observadas?", pontua Castro Alves.
À espera do Copom
Além disso, outro fator que também fez preço nos mercados nesta quarta-feira era a expectativa pela reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC), que decide hoje a nova taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic. A expectativa é de uma elevação de 0,50 ponto percentual, o que levaria a taxa Selic a 11,25% ao ano.
Esse patamar torna os títulos públicos brasileiros mais atrativos para os investidores, que passam a receber retornos maiores. Assim, há uma migração de investimentos para o Brasil, o que pesa a favor do real.
"Estamos em vias de um anúncio de política monetária que certamente irá no sentido de apertar ainda mais os juros no campo doméstico, mantendo o Brasil como uma praça atrativa mesmo em meio ao cenário de força do dólar, ganho das Treasuries e perspectiva de juros mais elevados nos Estados Unidos",diz Matheus Pizzani, economista da CM Capital.
Por fim, a perspectiva de proximidade de um anúncio sobre o pacote de cortes de gastos voltou a animar o mercado.
O governo efetuou uma série de reuniões com ministros nos últimos dias para fechar os cortes de gastos necessários para manter o arcabouço fiscal — a regra das contas públicas — operante. A expectativa é que o anúncio das medidas possa ocorrer ainda nesta semana.
Pela manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as reuniões ministeriais sobre cortes de gastos já terminaram e que o próximo passo é conversar com o presidente Lula sobre as propostas.
"A partir da devolutiva, Lula encaminha endereçamento ao Congresso", disse. Acrescentou que o presidente da República possivelmente conversará com a cúpula do Congresso Nacional sobre o assunto.
"No fundo, a gente está vendo um andamento do pacote que deve ser anunciado até o fim da semana reduzindo o risco fiscal, que acho que é o ponto principal para que o câmbio continue num patamar elevado. Esse é o 'calcanhar de Aquiles' do Brasil. Uma sinalização feita pelo ministro traz uma atenuação para o dólar", explica Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.