France Presse

17/12/2015 16h51 - Atualizado em 17/12/2015 17h16

Dólar dispara mais de 40% na Argentina após fim de restrições

Peso argentino sofreu maior desvalorização desde a crise de 2002.
Governo Macri anunciou na quarta fim das restrições em vigor desde 2011.

Do G1, em São Paulo

Peso argentino sofreu forte desvalorização frente ao dólar e outras moedas como o euro e o real (Foto: Reuters)Peso argentino sofreu forte desvalorização frente ao dólar e outras moedas como o euro e o real (Foto: Reuters)

O peso argentino sofreu nesta quinta-feira (17) sua maior desvalorização desde a crise econômica de 2002, com o dólar subindo mais de 40%, depois de o governo de Mauricio Macri ter acabado, na última quarta, com as restrições em vigor desde 2011.

Nesta quinta, o peso argentino sofreu uma desvalorização de 30% frente ao dólar.

Na quarta-feira, o dólar encerrou os negócios valendo 9,835 pesos. Nesta quinta, a moeda dos EUA fechou o dia a 13,40 pesos para a compra e 14 pesos para a venda, que representa uma valorização do dólar acima de 40%, informa a agência France Presse.

Apelidado de "cepo", o controle cambial tinha sido implementado pela ex-presidente Cristina Kirchner em 2011 em meio à fuga de divisas. Na prática, o novo governo anunciou a unificação do valor do dólar – até então existiam pelo menos três cotações -, o fim dos controles para a compra da moeda americana e para as transferências de divisas de empresas para suas sedes no exterior, além da normalização dos pagamentos das importações.

 

O fim das restrições cambiais era um persistente pedido dos empresários, do campo e dos mercados pelas distorções que criou para importar e exportar.

Consultores estimam que a intenção do novo governo é que se fixe pela ordem dos 14,50 pesos o dólar, o que implicará uma forte desvalorização com o risco de que seja repassada aos preços do varejo.

No centro de Buenos Aires, os cambistas do mercado ilegal continuavam como todos os dias comercializando a divisa e mantendo o preço dos últimos dias, entre 14,10 e 14,20 para venda, informa a France Presse.

Ao mesmo tempo em que os produtos argentinos devem passar a ficar "mais competitivos" em termos de exportação e o turismo no país "mais em conta", a desvalorização do peso poderá provocar "perda salarial" entre a população e pressão inflacionária.

O que muda
Nos próximos dias deverá ser medida a demanda nas ruas e definida a diferença em relação à última cotação oficial da moeda no país, que já teve paridade com o dólar entre 1991 e 2001.

O economista Nicolás Dujovne disse à AFP que a chave do sucesso da eliminação das restrições é que se chegue a um nível de 14/15 pesos o dólar, que o governo não dê marcha ré com a liberalização e que a transferência de preços não seja muito alta".

"O preço do dólar será decidido amanhã pelo mercado. Mas também terá um Banco Central com as ferramentas necessárias para intervir se o dólar subir ou cair muito", afirmou na quarta-feira o ministro de Fazenda e Finanças, Alfonso Prat-Gay,

Ele estima que entrarão nos cofres argentinos "entre 15 e 25 bilhões de dólares nas próximas quatro semanas". Esse valor é maior do que os 10 bilhões considerados necessários para poder liberar a compra e venda da divisa.

A medida abre a possibilidade de que cidadãos e empresas possam comprar até dois milhões de dólares sem restrições. Até agora, as pessoas só podiam adquirir 2.000 dólares por mês.

"Quem quiser importar ou exportar, ou comprar dólares pode, ninguém o perseguirá", declarou o ministro.

Economia estagnada
Com uma economia estagnada, um déficit acima de 7% do PIB e uma inflação que ronda os 30%, segundo consultorias privadas da terceira economia da América Latina, "não havia muita margem para continuar adiando essa decisão", afirmou o relatório da consultoria argentina Ecolatina.

A eliminação do controle cambial na Argentina soma-se a uma agitada semana em que, em menos de sete dias como presidente, Macri eliminou impostos a empresas agropecuárias e à indústria.

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