10/09/2015 17h01 - Atualizado em 10/09/2015 23h00

Standard & Poor's tira grau de investimento da Petrobras e bancos

S&P cortou nota de 31 empresas e 13 instituições financeiras.
Na véspera, agência tirou o grau de investimento do Brasil.

Darlan Alvarenga, Taís Laporta e Karina TrevizanDo G1, em São Paulo

A Standard & Poor's (S&P) rebaixou a nota de 31 empresas nesta quinta-feira (10) – entre elas a Petrobras, que perdeu o grau de investimento – e de outras 13 instituições financeiras, das quais 11 perderam o selo de bom pagador.

 

A ação de rating é um desdobramento direto do rebaixamento da nota de crédito soberano do Brasil, anunciada na véspera, que fez o país perder o selo de bom pagador na classificação da S&P. Não significa, necessariamente, que as companhias estão em situação ruim.

Segundo a agência, as novas notas refletem a visão da S&P de que as empresas estão atualmente com o número máximo de "degraus" de diferença acima da nota do país.

Sete das 31 companhias mantiveram o grau de investimento porque existe uma “distância máxima” que pode ser mantida em relação ao rating do país, rebaixado para BB+. Entre elas estão Ambev, Votorantim e Globo – que, hoje, está dois degraus acima da nota do Brasil. (veja a lista abaixo)

Petrobras
A nota da Petrobras foi rebaixada em dois níveis, de "BBB-" para "BB", com perspectiva negativa. A estatal está agora na categoria especulativa.

Entre os 13 bancos com ratings afetados após o corte da nota do Brasil, dois já não tinham grau de investimento; as demais o perderam. Entre os bancos que têm agora grau especulativo estão o Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, BNDES e Caixa Econômica Federal.

Dívida da Petrobras
Em comunicado, a S&P disse que a perspectiva negativa aplicada à dívida da Petrobras – que abre a possibilidade de outro rebaixamento no futuro – é um reflexo da situação política e econômica do país.

"Vamos continuar avaliando a qualidade de crédito das empresas em uma base contínua em vista da enfraquecida qualidade do crédito soberano e de perspectivas macroeconômicas mais fracas”, afirmou a S&P.

Em teleconferência com jornalistas mais cedo, analistas da S&P já tinham sinalizado que a Petrobras corria o risco de perder o grau de investimento e ter a sua dívida rebaixada para a categoria especulativa.

Segundo a agência, o Brasil precisa mostrar sólido e consistente comprometimento para reverter a sua situação e voltar a ter grau de investimento.

Em comunicado, a Petrobras afirmou que a financiabilidade dos projetos da companhia, no médio prazo, foi alcançada por meio de financiamentos captados neste ano com instituições financeiras no Brasil e no exterior.

"A companhia esclarece, ainda, que seus financiamentos não possuem cláusulas atreladas ao rating das agências classificadoras de risco. Ou seja, a reclassificação não provocará alterações nos contratos vigentes", informou a estatal.

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notas petrobras agências classificação (Foto: Editoria de Arte/G1)

Outras agências
Na classificação da Moody's, a Petrobras já tinha perdido em fevereiro o grau de investimento. O rating atual da estatal na Moody's é "Ba2", dois degraus abaixo do patamar considerado "bom pagador".

Na Fitch, a estatal permanece com grau de investimento, classificada com a nota “BBB-", um degrau acima do patamar especulativo.

Na S&P, a Petrobras estava com a nota 'BBB-', no último patamar do grau de investimento, mas com perspectiva negativa desde março.

Consequências para a Petrobras
O rebaixamento do Brasil e da Petrobras pode aumentar as dificuldades de financiamento da companhia.

A petroleira enfrenta atualmente um alto grau de endividamento e seus custos de financiamento tendem a subir enquanto os termos de refinanciamento também ficam mais duros, destaca a Reuters.

A dívida líquida da Petrobras subiu 15% em seis meses, para R$ 323,9 bilhões no final de junho, ante R$ 282 bilhões no final de 2014.

Com a perda do grau de investimento confirmada por duas grandes agências de classificação de risco, alguns fundos de pensão e investimento internacionais ficam obrigados a se desfazer de suas ações da Petrobras e impedidos de fazer novos investimentos na estatal, explica Alex Agostini, economista chefe da agência de classificação de risco nacional Austin Rating. Segundo ele, essa venda em conjunto pode derrubar o preço das ações da empresa nos próximos dias.

O rebaixamento da Petrobras pela S&P foi anunciado pouco antes do fechamento do pregão da Bovespa, que encerrou o dia em queda de 0,33%, com as ações preferenciais da petroleira registrando baixa de mais de 5%.

A estatal está no centro das investigações da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Em abril, a companhia calculou em R$ 6,194 bilhões as perdas por corrupção e reduziu o valor de seus ativos em R$ 44,3 bilhões.

Veja as empresas que foram rebaixadas nesta quinta pela S&P:

Petrobras
Companhia de Gas de Sao Paulo - Comgas
Companhia Energetica do Ceara - Coelce
Elektro Eletricidade e Servicos S.A. (Elektro)
Eletrobras-Centrais Eletricas Brasileiras S.A.
Transmissora Alianca de Energia Eletrica S.A. (TAESA)
Neoenergia S.A.
Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia – COELBA
Companhia Energética do Rio Grande do Norte – COSERN
Companhia Energética de Pernambuco – CELPE
Itaipu Binacional
Atlantia Bertin Concessoes S.A. (AB Concessões)
Rodovia das Colinas S.A
Triangulo do Sol Auto-Estradas S.A
Arteris S.A.
Autopista Planalto Sul S/A
CCR S.A
Autoban - Concessionaria do Sistema Anhanguera Bandeirantes S.A
Concessionaria da Rodovia Presidente Dutra S.A
Rodonorte Concessionaria de Rodovias Integradas S.A
Ecorodovias Concessoes e Servicos S.A
Concessionaria Ecovias dos Imigrantes S.A
Santos Brasil Participacoes S.A
Samarco Mineracao S.A
AmBev - Companhia de Bebidas das Americas (AmBev)*
Globo Comunicacao e Participacoes S.A. (Globo)*
Multiplan Empreendimentos Imobiliarios S.A. (Multiplan)*
Ultrapar Participacoes S.A. (Ultrapar)*
Votorantim Participacoes S.A*
Votorantim Industrial S.A*
Votorantim Cimentos S.A*

* As notas foram cortadas porque existe uma “distância máxima” que pode ser mantida em relação ao rating do país, rebaixado para BB+.

15 empresas tiveram o rating mantido, mas foram colocadas em perspectiva negativa (9 delas só para a nota em moeda local, o que é menos importante):

Raizen Energia S.A
Raizen Combustiveis S.A
Localiza Rent a Car S.A
Ampla Energia e Servicos S.A
Cachoeira Paulista Transmissora de Energia S.A
Norte Brasil Transmissora de Energia S.A
Companhia Energetica de Minas Gerais S.A.
Cemig Distribuicao S.A
Cemig Geracao e Transmissao S.A
CPFL Energia S.A
Companhia Paulista de Forca e Lu
Companhia Piratininga de Forca e Luz
Rio Grande Energia S.A
Bandeirante Energia S.A
Espirito Santo Centrais Eletricas S.A

9 tiveram todos os ratings e perspectivas mantidos:

Ache Laboratorios Farmaceuticos S.A
BRF S.A
Embraer S.A
Fibria Celulose S.A
Gerdau S.A
Natura Cosmeticos S.A
Telefonica Brasil S.A
Vale S.A
Vale Canada Ltd

6 foram mantidos, mas colocados em observação negativa:

Braskem S.A
Klabin S.A
Odebrecht Engenharia e Construcao S.A
Baesa - Energetica Barra Grande S.A
Duke Energia International Geracao Paranapanema S.A
Tractebel Energia S.A

Selo de bom pagador
O grau de investimento é um selo de qualidade que assegura aos investidores um menor risco de calotes. A partir da nota de risco atribuída aos títulos de dívidas de países e empresas, os investidores podem avaliar se a possibilidade de ganhos (por exemplo, com juros maiores) compensa o risco de perder o capital investido com a instabilidade econômica local.

Alguns fundos de pensão internacionais, de países da Europa ou os Estados Unidos, por exemplo, seguem a regra de que só se pode investir em títulos que estão classificados com grau de investimento por agências internacionais.

O rebaixamento do Brasil fez o dólar chegar a R$ 3,90 nesta quinta, dia seguinte ao anúncio da S&P.

Levy fala em conter 'afã' de agências
Em entrevista nesta quinta-feira, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, voltou a afirmar que o governo perseguirá um superávit primário – economia feita para pagar juros da dívida pública – de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem.

Segundo o ministro, os brasileiros estão dispostos a pagar mais impostos para o ajuste: "[Se] a gente precisar pagar um pouquinho mais de imposto para o Brasil ser reconhecido como um país forte, eu tenho certeza que todo mundo está disposto", afirmou.

Entretanto, não anunciou nenhuma medida nova, quer seja um bloqueio adicional de gastos, ou propostas para elevações de tributos. Segundo Levy, as medidas de ajuste fiscal podem influenciar positivamente a conter "o afã de outras agências de risco".

"Uma das agências pode ter se precipitado [ao rebaixar a nota brasileira]. Quando a gente mostrar que aquele processo que já estava em andamento [de novas medidas para consolidar o ajuste fiscal] vai ter conclusão em algumas semanas, acho que talvez o afã de revisar a nota do Brasil arrefeça entre as outras agências e também a própria avaliação do mercado, que irá se tranquilizar", afirmou.

Repercussão política
Na Argentina, o ex-presidnete Luiz Inácio Lula da Silva comentou o rebaixamento da nota do Brasil pela S&P nesta quinta. Segundo Lula, é um sinal de que as agências de classificação de risco querem "mais arrocho". O petista afirmou que a decisão da S&P "não significa nada" e deveria estimular os países a não fazer o que essas agências querem.

O senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB – principal partido da oposição –, disse nesta quinta que a perda do grau de investimento do Brasil é o "caos anunciado". Ele disse que a culpa é "exclusiva" da presidente Dilma Rousseff.

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