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Por Ana Flor

Jornalista e comentarista da GloboNews.

g1 e GloboNews — Brasília


Haddad detalha medidas do ajuste fiscal — Foto: Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo

O populismo de parte do governo que resistiu e lutou contra um corte de gastos profundo acabou por sabotar o anúncio do ministro Fernando Haddad na noite desta quarta-feira (27).

Misturar isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil — medida popular, mas que vai na contramão de um ajuste fiscal —, com um pacote de corte de gastos esperado há semanas por agentes econômicos, acabou por minar a pouca confiança que já existe no compromisso da área política do governo em adotar medidas duras para controlar o endividamento do país.

Mais ainda, o episódio desta quinta ampliou a percepção de que os maiores adversários da agenda de Fernando Haddad estão dentro do governo. O chamado fogo amigo, perceptível desde a chegada de Lula ao poder em 2023, mas que se tornou a maior fonte de desgaste para Haddad.

Primeiro, a decisão de anunciar a isenção do IR junto com os cortes — atribuída ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diretamente.

Depois, o vazamento da informação antes mesmo de se informar a magnitude do corte — os R$ 70 bilhões em dois anos acabou em segundo plano.

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A reação foi imediata: o dólar bateu o maior valor de sua história e os juros futuros subiram a um patamar cada vez mais difícil para o próprio governo gerir sua dívida.

A potência do anúncio realizado nesta quinta já foi enfraquecida pelas dúvidas, amplificadas nesta quarta, sobre se o governo irá trabalhar em conjunto para aprovar as medidas no Congresso.

Ao lado de Haddad, quem começa a sofrer com o fogo amigo, antes mesmo de sentar na cadeira, é o escolhido de Lula para comandar o Banco Central, Gabriel Galipolo.

Na atual circunstância, não há escapatória para a alta de juros, e na medida em que 2026 se aproxima, a pressão para a queda na taxa Selic se intensificará.

As condições externas, com guerras, crescimento do protecionismo e o resultado das eleições nos Estados Unidos não têm ajudado.

Mas a situação da economia do Brasil, explicitada por um dólar que já se valorizou mais de 20% frente ao real neste ano — o que se traduz na inflação que todo brasileiro sente no bolso — é responsabilidade do governo e de seus embates e boicotes internos.

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