Rapper Leandro Roque de Oliveira, conhecido como Emicida (Foto: Emicida/Divulgação)O rapper Emicida postou em seu blog que o show que fazia na 3ª Conferência Nacional de Juventude, em Brasília, na última quarta-feira (16), teve de ser interrompido meia hora após o início devido a uma confusão com a Polícia Militar. Segundo ele, policiais chegaram a usar bombas de gás e cassetetes. A conferência debatia rumos para o Brasil do ponto de vista da juventude. Neste ano, o evento recebeu representantes de 14 países.
O show acontecia no Estádio Nacional Mané Garrincha. Horas antes, a presidente Dilma Rousseff discursou no evento. O G1 tentou contato com o rapper, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
De acordo com a postagem do rapper, o chefe de gabinete do secretário de Turismo do DF “chegou com homens do Bope para fazer uma varredura no local do show, argumentando que não havia alvará para apresentação".
De acordo com o rapper, as apresentações seguintes – dos cantores Karol Conka, Drik Barbosa, Raphão Alaafin, Muzzike e Rico Dalasam – foram suspensas. "A noite que seria de confraternização pela democracia terminou com a multidão dispersada por cassetetes e bombas de gás”, escreveu.
O secretário-adjunto de Turismo, Jaime Recena, e a Polícia Militar negam a cena descrita por Emicida em seu blog. De acordo com a PM, policiais estiveram no local para atender a uma solicitação da Secretaria de Turismo do DF com a missão de garantir a segurança no local.
Trecho da publicação no blog do rapper Emicida(Foto: Emicida/Divulgação)
"Em momento algum houve uma ação policial no sentido de fazer uma varredura ou até mesmo interromper o evento. Os policiais militares permaneceram no local, na parte interna, a 200 metros da entrada do show, e também na área externa para assegurar a proteção de todo os participantes que estiveram presentes na 3ª Conferência Nacional da Juventude", disse a Polícia Militar por meio de nota.
Recena nega as acusações postadas no blog do Emicida. Segundo ele, a Polícia Militar foi acionada para fazer a segurança do público na saída do estádio. Recena também afirma que não foram usados cassetetes ou bombas de gás lacrimogêneo.
"Não havia licenciamento para fazer os shows. A produção não se preocupou em pedir um alvará. Imagine se acontece alguma tragédia? O governo do Distrito Federal seria penalizado. A Polícia Militar foi chamada apenas para dar suporte. A produção do evento, em vez de assumir os erros, transfere [o problema] para pessoas que não têm nada que ver com isso", afirma Recena.
Em seu blog, Emicida também escreveu que o secretário Nacional de Juventude, Gabriel Medina, tentou mediar a situação e foi "ameaçado de prisão" pela Polícia Militar. O G1 entrou em contato com o secretário mas, até a última atualização desta reportagem, não obteve retorno. Segundo sua assessoria, ele estava em reunião. A secretaria Nacional de Juventude é um órgão ligado à Presidência da República.
Ao blog do rapper, porém, Medina teria dito que o evento tinha alvará. "Ela [polícia] vê com receio o tipo de orientação cultural marcado pelo rap, que foi o escolhido pelo evento. Ainda há muito preconceito contra o hip hop. Temos aqui jovens representantes dos movimentos negro, LGBT, que não são bem entendidos pela polícia." A Polícia Civil informou ao G1 que nenhum boletim de ocorrência foi registrado relacionado ao caso.
A presidente Dilma Rousseff durante a abertura da 3ª Conferência Nacional da Juventude, em Brasília, no dia 16 de dezembr (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)Dilma cita Emicida
A presidente Dilma Rousseff abriu a conferência do Estádio Mané Garrincha ao lado do ex-presidente uruguaio José Mujica horas antes das apresentações musicais previstas para a noite de quarta-feira. Em seu discurso, a presidente citou o rapper ao falar da “epidemia de violência contra a juventude, especialmente a juventude negra”.
“Não mudaremos o Brasil fechando escolas, isso é certo", em referência ao fechamento de colégios estaduais em São Paulo, governado pelo PSDB, partido que faz oposição ao governo federal. "Nós também não vamos mudar o Brasil reprimindo movimentos pacíficos com forças policiais”, afirmou.
