20/04/2015 04h30 - Atualizado em 20/04/2015 04h30

DF tem 5 famílias inscritas para cada criança disponível para adoção

Vara da Infância diz estimular reflexão em interessados no procedimento.
Bebê de 2 anos que é tetraplégico e tem deficiência cognitiva está na lista.

Raquel MoraisDo G1 DF

Fachada da Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal (Foto: Raquel Morais/G1)Fachada da Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal (Foto: Raquel Morais/G1)

Dados da Vara da Infância e da Juventude apontam haver cinco famílias cadastradas para cada criança e adolescente disponível para adoção no Distrito Federal. Os processos só não são concluídos por falta de compatibilidade entre os perfis: a maior parte dos pretendentes procura meninos e meninas de até 2 anos, saudáveis, de cor clara e sem irmãos. Atualmente há apenas um bebê na faixa etária, que é tetraplégico e tem comprometimento cognitivo irreversível.

"Quanto mais restritos a idade, sexo ou saúde, maior é o tempo de espera de uma família por uma criança", explica a psicóloga e membro do setor de Adoção Nacional, Paula Freire. "É por isso que a gente sempre vê mais gente interessada, mas a conta nunca fecha. Ainda se tem esse desejo pelo 'perfil clássico'."

De acordo com o órgão, 89 garotos e garotas aguardavam até o mês passado por adoção em 17 abrigos no DF. Além do bebê tetraplégico, há 22 crianças que têm entre 3 anos e 9 anos e 66 meninos e meninas com idades entre 10 e 17 anos. O levantamento mostra ainda que 80% das crianças e adolescentes disponíveis para adoção têm de um a cinco irmãos.

Paralelamente, 478 famílias estão inscritas e autorizadas pela Justiça a seguir o processo. Todas passaram por preparação – com uma palestra e três conversas dirigidas a respeito do tema – e avaliação psicossocial – com entrevistas, visitas domiciliares e discussões com familiares. A etapa dura em média oito semanas.

A psicóloga e representante do setor de Adoção Nacional, Paula Freire (Foto: Raquel Morais/G1)A psicóloga e representante do setor de Adoção Nacional,
Paula Freire (Foto: Raquel Morais/G1)

Paula afirma que a Vara da Infância tem apostado em reflexões durante essa primeira fase para mostrar aos pretendentes a realidade. "A gente expõe a situação, que 90% das crianças são maiores ou adolescentes. E também deixamos claro outros aspectos, como que essas crianças não foram colocadas para a adoção porque vierem de uma realidade fácil."

Segundo a psicóloga, as estatísticas do Tribunal de Justiça já têm mostrado uma maior flexibilização por parte dos futuros adotantes. Ela afirma que, depois da palestra e das conversas dirigidas, as famílias costumam demonstrar interesse em ampliar em alguns poucos anos a faixa etária da criança pretendida.

"A gente vê mais restrições em relação à saúde e à adoção tardia. Existem muitos mitos, como de que a criança mais velha não consegue se constituir na família, além da vontade desses pretendentes de exercer a paternidade e a maternidade desde muito cedo na vida de alguém", afirma.

Um estudo feito pela Vara da Infância mostra que 60 das 76 das crianças e adolescentes disponíveis conseguiram adoção no ano passado – 78,9%. O índice é maior do que em 2013, quando 53 de 77 meninos e meninas passaram pelo processo – 68,8%.

A gente vê mais restrições em relação à saúde e à adoção tardia. Existem muitos mitos, como de que a criança mais velha não consegue se constituir na família, além da vontade desses pretendentes de exercer a paternidade e a maternidade desde muito cedo na vida de alguém"
Paula Freire,
psicóloga do setor de Adoção Nacional

Outro dado representou uma mudança no perfil dos interessados: mais da metade das famílias já tinha filhos. Além disso, apenas 26% tinham problemas de infertilidade. Dos novos pais, mais da metade (51%) possui ensino superior completo. Em 47% dos casos, eles são morenos-claros e 22% moram na Asa Sul e Norte. A maioria (78,64%) é casada ou vive em união estável e tem entre 41 e 60 anos (64%).

A psicóloga Elizangela Roque, de 42 anos, é exemplo dessa situação. Já mãe de cinco crianças, ela adotou dois irmãos, de 7 e 10 anos, há três anos. Depois teve mais dois filhos biológicos. Hoje a prole, composta por duas meninas e sete garotos, tem entre 9 meses e 19 anos. A família vive no Guará.

A ideia da adoção surgiu depois de conhecer um colega de um dos filhos. “A escola deu uma bolsa para o Matheus [que morava em um abrigo], e ele e o Miguel ficaram muito amigos. Começamos a nos aproximar dele, ficamos encantados. Então descobrimos que ele morava em um abrigo do lado. Nos aproximamos mais, e meu marido queria saber mais dele. Aí fomos lá.”

Em uma visita ao local, Elizangela descobriu que o menino tinha um irmão. Ela conta que decidiu então conquistar também Marcos e assim dar início ao processo de adoção. A novidade, diz, foi aceita com naturalidade em casa.

Quem pode adotar
O Estatuto da Criança e do Adolescente estipula que os adotantes sejam maiores de idade e tenham no mínimo 16 anos a mais que o adotado. Solteiros, viúvos e divorciados com condições socioeconômicas estáveis também podem se candidatar. Os pretendentes não podem ser dependentes de álcool e drogas ou morar com pessoas que tenham esse perfil.

Os interessados devem procurar o fórum munidos do RG e de um comprovante de residência. Após análise e aprovação da documentação, eles serão entrevistados pela equipe técnica da Vara da Infância e da Juventude.

Os candidatos podem então ser encaminhados para grupos de reflexão para avaliar as motivações do interesse em adotar. Os aprovados são encaminhados para o cadastro de habilitados.

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