Os partidos aliados estão tentando superar um clima de desconfiança que ficou depois que o PMDB votou em peso para livrar a ex-presidente de parte da pena prevista na Constituição. Agora, os partidos não estão se entendendo nem sobre as medidas tão importantes e necessárias neste momento para conter os gastos públicos.
O PMDB, por exemplo, quer votar logo o aumento dos salários dos ministros do Supremo, mas PSDB e DEM barraram essa decisão. O desafio do governo é acabar com a crise nos partidos aliados para que esses partidos não roam a corda na hora das votações.
A base aliada de Michel Temer é grande, tem a maioria dos partidos no Congresso. Só que unida é uma palavra que ainda não está dando para usar, disse o PSDB.
“A minha impressão é que a ficha ainda não caiu para o PMDB. O PMDB não se convenceu que ainda é governo e que precisa produzir resultados na orientação política e, sobretudo, na orientação econômica”, declarou o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES).
Mal acabou o impeachment e o líder do PMDB, Eunício Oliveira, encabeçou um pedido para votar com urgência o aumento do salário dos ministros do Supremo, de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil. Chegou a ser lido, mas PSDB e DEM barraram.
“Não tem nenhuma situação de pé de guerra. O que existe é um debate muito claro, muito transparente, ou seja, se o governo está disposto a fazer aquilo que a sociedade deseja, cortar na carne e promover ajustes, nós estaremos juntos. Agora, dois pesos e duas medidas, nós estaremos fora”, afirmou senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), líder do partido.
A outra irritação da semana foi a ajuda que o PMDB também deu para abrandar a pena de Dilma. O PT, agora oposição, aposta nas divergências. “Todo mundo está vendo que tem uma divisão de disputa de poder dentro do governo e de natureza impopular de medidas. Nós vamos trabalhar em cima dessa divisão para que possamos ganhar votações no plenário”, afirmou o deputado Afonso Florence (PT-BA), líder do partido.
O presidente do PMDB disse que a situação está sob controle. “A base mostrará sua união no momento que tiver que votar matérias que são importantes para o governo. Essa votação da cassação não era matéria do governo, era um rito constitucional, iniciado na Câmara e finalizado no Senado, portanto, não se tome a unidade da base por conta de qualquer votação nesse rito de cassação da presidente Dilma”, disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR), presidente do partido.
Mas o presidente Michel Temer está preocupado, tanto que viajou para China e acabou não levando o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. O governo disse para os partidos que tem como prioridades a votação do teto dos gastos públicos e o envio, ainda neste mês para o Congresso, do projeto de reforma da Previdência. Câmara e Senado só devem ter mais umas quatro sessões para votação antes da eleição municipal de outubro. É que o pessoal viaja para fazer campanha e por isso que tem um calendário especial.
Para amenizar o clima de desconfiança, o governo Temer sinaliza que vai dar mais espaço aos partidos aliados na tomada de decisões, além do compromisso de fazer o ajuste fiscal.