Com a suspensão do apoio federal para viagens de imigrantes do Acre para a capital paulista, anunciada na terça-feira (19), um aviso que estabelece outras seis cidades brasileiras como destino foi afixado na porta de um abrigo, em Rio Branco.
Nesta quinta-feira (21), dois ônibus para Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba deverão sair levando parte das pessoas. De acordo com o aviso, além dos estados da Região Sul, elas podem escolher ainda ir para Porto Velho, Cuiabá e Campo Grande. A maioria dos imigrantes veio do Haiti ao Brasil em busca de trabalho.
A suspensão do repasse de recursos federais para viagens a São Paulo ocorreu após a cidade reclamar da chegada de haitianos sem aviso prévio. Segundo o Ministério da Justiça, a transferência será retomada quando a questão estiver coordenada entre órgãos do governo federal, estados e municípios.
De acordo com o porta-voz do governo do Acre, Leonildo Rosas, o governo do Acre deverá procurar as prefeituras das outras cidades para falar sobre a chegada dos novos moradores. "Porto Alegre já entrou em contato conosco na quarta-feira (20), e vamos entrar em contato com as outras para que elas possam se preparar", afirmou o porta-voz, dizendo ainda que os destinos são escolhidos pelos próprios imigrantes.
A viagens serão pagas com o dinheiro de um convênio firmado pelo governo do Acre com o Ministério da Justiça. Até esta quarta-feira (20), 600 imigrantes estavam registrados no abrigo, desses 220 haviam chegado na véspera. O abrigo possui capacidade para receber até 240 pessoas.
saber ainda para qual cidade brasileira irá, mas
não descarta ida para São Paulo
(Foto: Yuri Marcel/G1)
'Se os ônibus para São Paulo não voltarem, não vou esperar'
Mesmo com as viagens do abrigo em Rio Branco para São Paulo suspensas, a cidade ainda é considerada destino para um grupo de imigrantes, que busca agora uma alternativa para chegar até lá. Esse é o caso de Richama Louissant, de 27 anos, no abrigo há aproximadamente um mês. Ela conta que pretende seguir por conta própria.
"Preciso ir para lá e vou esperar ao menos mais dois dias, mas se os ônibus para São Paulo não voltarem, não vou esperar mais", diz. Richama explica que quer ir para a capital paulista, porque parte da família dela já mora na cidade. "Meus três irmãos já vivem lá. Quero ir para lá para trabalhar em qualquer coisa", conta.
Já o haitiano Willy Jean, de 35 anos, ainda não sabe para onde ir, mas não nega que São Paulo é um possível destino. "Estou esperando para descobrir onde alguns amigos meus estão, para que eu possa encontrá-los. Se eles estiverem em São Paulo talvez eu tenha que dar um jeito de ir para lá", diz.
Entenda o caso
O Ministério da Justiça anunciou, na terça-feira (19), que um acordo com o governo acreano suspendeu o envio de imigrantes haitianos para a cidade de São Paulo. Segundo o ministério, a transferência "está suspensa até que ações referentes a essa questão estejam bem coordenadas entre os vários órgãos do governo federal, estados e municípios".
Inicialmente, a pasta havia informado que a transferência estava proibida para todos os estados do país. Às 22h10 da terça-feira, porém, o ministério afirmou que o acordo diz respeito apenas à cidade de São Paulo.
Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou que não havia sido informada sobre a chegada de, aproximadamente, 1 mil imigrantes e, por isso, não tinha estrutura para recebê-los. Só na segunda-feira (18), em torno de 80 haitianos desembarcaram na cidade.
"É difícil receber estes haitianos sem termos 15 a 20 dias de antecedência para nos preparamos. São Paulo recebe bem os imigrantes, mas precisa de uma antecedência para planejar, até para conforto dos imigrantes", disse o prefeito Fernando Haddad em entrevista à rádio CBN.
Já no dia 14 de maio, o governo do Acre se manifestou por meio do porta-voz oficial, Leonildo Rosas. Ele reforçou o informe do Ministério da Justiça sobre a continuidade das viagens para outras cidades e a suspensão das que estavam programadas para São Paulo.
"Houve um acordo comum entre os entes envolvidos – governo federal, São Paulo e Acre – para que haja uma suspensão temporária na ida desses imigrantes, até que se defina o fluxo. O convênio com governo para a ida para outros estados do Centro-Sul permanece. Vale destacar que o destino não é definido pelo governo, os imigrantes dizem para que lugares querem ir", afirmou na ocasião.
Rosas comentou ainda a reclamação do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, sobre não ter sido informado quanto à chegada de imigrantes. Segundo o porta-voz, o estado também não é notificado sobre a chegada das pessoas.
"Os imigrantes quando chegam ao Acre não notificam. Essa medida de informar os estados é do governo federal. Não cabe ao Acre fazer essa mediação. Nós acolhemos os imigrantes. Eles definem para onde vão e o governo federal faz essa mediação", disse.
Rota de imigração
Imigrantes chegam ao Acre todos os dias através da fronteira do Peru com a cidade de Assis Brasil, distante 342 km da capital. A maioria são imigrantes haitianos que deixaram a terra natal, desde 2010, quando um forte terremoto deixou mais de 300 mil mortos e devastou parte do país. De acordo com o governo do estado, desde 2010, mais de 32 mil imigrantes entraram no Brasil pelo Acre.
Eles vêm ao Brasil em busca de uma vida melhor e de poder ajudar familiares que ficaram para trás. Para chegar até o Acre, eles saem, em sua maioria, da capital haitiana, Porto Príncipe, e vão de ônibus até Santo Domingo, capital da República Dominicana, que fica na mesma ilha. Lá, compram uma passagem de avião e vão até o Panamá. Da cidade do Panamá, seguem de avião ou de ônibus para Quito, no Equador.
Por terra, vão até a cidade fronteiriça peruana de Tumbes e passam por Piura, Lima, Cusco e Puerto Maldonado até chegar a Iñapari, cidade que faz fronteira com Assis Brasil (AC), por onde passam até chegar a Brasiléia.